Filme 'O formidável' se revela uma boa homenagem a Jean-Luc Godard
O longa-metragem é uma homenagem ao grande nome da nouvelle-vague
Em seu novo filme, O formidável, o cineasta Michel Hazanavicius (O artista) foca suas lentes sobre ninguém menos do que o revolucionário Jean-Luc Godard, capaz de mudar os rumos da sétima arte, nos anos 1960, com filmes como Acossado, O demônio das onze horas e uma série de projetos determinantes para a nouvelle-vague.
Homenagear à exaustão a figura de Godard poderia ser um risco. A conjuntura dominante na fita preconiza a acidez. Vaidoso e imprevisível, o personagem a cargo de inspirada composição do ator Louis Garrel (Os sonhadores) brota “selvagem e impertinente”, como modula o roteiro. Engajado e político, o celebrado cineasta franco-suíço soube usar a câmera como verdadeira arma, sob o escudo de uma defesa das classes estudantis e operárias.
Baseada em Un an après (livro de memórias da atriz Anne Wiazemsky, mulher de Godard por 12 anos), a narrativa desbrava os ladrilhos da relação amorosa que levaram à visão desidealizada, pela ótica de Wiazemsky (Stacy Martin), de um “horizonte retorcido”. A adoção de um cinema de ruptura, os monumentais desentendimentos com os colegas Bernardo Bertolucci e Marco Ferreri e uma maldade na condução dos próprios sentimentos do genial diretor estão representados no longa de Hazanavicius.
O timing de O formidável favorece o sentimento de nostalgia, uma vez que, há três semanas, a ex-mulher de Godard morreu. No filme, o personagem de Godard antevê a possibilidade de ela vir a se tornar uma atriz “vulgar e banal”. Comedido na invasão de privacidade, o diretor se atém mais ao poder criativo do cinebiografado. Nisso, não deixa de apontar falhas no caráter do mestre, capaz de desmerecer o colega François Truffaut pela reiteração da reprodução do amor nas telas.
Exagerado nas gags relacionadas aos óculos quebrados do cineasta, O formidável acerta em muitos pontos. Particularmente, quando adota a simplicidade, em cinema, descrita pelo personagem vivido por Félix Kysul, Jean-Pierre Gorin (parceiro de Godard, no movimento Dziga Vertov). Como no manejo de um “martelo”, simples e ao alcance de todos, desfia humor, coloca pensamentos de personagens entre parênteses e ainda torna o tom investido do filme em negativo. Belas homenagens a Godard.