Estreia na cidade o documentário sobre a vida de Cora Coralina
A escritora foi homenageada no documentário 'Cora Coralina - Todas as vidas de Renato Barbieri'
Desfaça a carranca quem for contra a poesia. No documentário Cora Coralina — Todas as vidas, que cerca a multiplicidade de olhares encerrado na observadora idosa da cidade de Goiás, não há espaço para versos pernósticos ou estrofes empoladas: o diretor Renato Barbieri acerta o tom pela autenticidade e singeleza aplicadas sobre a poetisa solidária e trabalhadeira que se via como “uma proletária sem preconceitos”.
Num paralelo de cinema, Cora Coralina emana a voracidade de vida sentida pela violeira do Pantanal Helena Meirelles (A dama da viola), as traquinagens da Helena Morley vista em Vida de menina (2003) e o transbordante desapego social de uma Nise da Silveira (Nise: O coração da loucura). É neste valor incalculável de feixe contínuo de boas correntes, vertido em poesia, que o filme de Barbieri se apega.
A propriedade de semear “valores humanos” e refutar o recolhimento da fartura fácil atravessa a vida da mulher simples, que se dedicava aos abandonados (apoiou a criação, por exemplo, do asilo São Vicente de Paulo), que via nos filhos “a rocha para amparo”, que tateou a literatura “por vaidade e ignorância”.
Esforçada, plantou rosas e preparou doces . Mas, foi no revolver de memórias e na projeção da infantil e astuta poeta Aninha, “a menina feia da Ponte da Lapa” (uma de suas vozes), que Cora recriou vivências de rica simplicidade narrativa. No filme, Cora Coralina se confirma popular e adorável, até a raiz cravada sempre (e para sempre) na terra.