Documentário Lumière! A aventura começa é uma homenagem aos pais do cinema
Dirigido pelo grande Thierry Frémaux, o documentário mostra a grandiosidade das obras produzidas pelos irmãos Lumière
“Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas”, diria Chico Buarque, em letra de música — completando: “danem-se” todos aqueles autos, dogmas e afins. É mais ou menos nessa linha proposta, de inexatidão, que se apoia o documentário assinado por ninguém menos do que o diretor do Festival de Cannes Thierry Frémaux. Ele não esconde a desconfiança em torno da paternidade do cinema atribuída aos irmãos franceses Louis e Auguste Lumière.
Igualmente, não teria por onde desmerecer a grandiosidade dos criadores do cinematógrafo (de patente controversa) que impulsionou o cinema como conhecemos hoje.
Lumière! A aventura começa, o documentário que Frémaux propõe, se apropria de 114 filmetes dos irmãos que, há 122 anos, deram um pontapé inaugural em desbravador entretenimento. Com olhar afiado, o diretor de Cannes sai-se como espécie de cronista das imagens alheias que ele mesmo, por meio da arte da restauração, serviu de guardião, como restaurador e pesquisador.
Impressionam, ainda hoje, a perfeição e durabilidade das imagens dos Lumière. A quantidade de produção foi um absurdo — a eles é atribuída filmografia de 1400 títulos. Seja caseira, coloquial, com situações no pátio dos irmãos, ou rebuscada — com direito à encenação — uma obra inteira é restaurada de importância e significado.
Há linguagem, estipulada e definitiva, no cinema dos Lumière, dotado de efeitos visuais, de esqueletos (em marionete), dançantes; de aldeias desbravadas pelo cinematógrafo e das ilhas de petróleo incendiadas no Azerbaijão do começo do século 20. De tirar o fôlego!