'O insulto' é o primeiro filme libanês indicado ao oscar
História mostra um país politizado e personagens fortes
Ricardo Daehn
Publicação:09/02/2018 06:00
Ziad Doueiri já teve problemas com o governo libanês por filmes sobre o país
Uns palavrões ditos ao vento e, repentinamente, o empreiteiro refugiado Yasser (Kamel El Basha, premiado no último Festival de Veneza) ganha uma sentença quase de morte pelo até então desconhecido libanês Tony (Adel Karam). A premissa de O insulto é do diretor Ziad Doueiri, responsável pela primeira indicação ao Oscar do Líbano na categoria de melhor filme estrangeiro.
Com o acirramento de uma petrificante desumanidade retratada na trama, os ânimos exaltados estão em primeiro plano. Um caso inicialmente banal nutre o enredo. Gentil, Yasser quer prestar serviço de auxílio para Toni, que tem uma calha problemática no pequeno apartamento em que vive com a mulher, Shirine (a belíssima Rita Hayek).
Longe da condição de “servo”, Yasser não engole a provocação de Tony: o libanês gostaria de ver o ex-primeiro-ministro de Israel Ariel Sharon exterminando “todos” os palestinos. Vale a lembrança de que, logo no começo do filme, uma cartela adverte que O insulto “não apresenta a política oficial do governo libanês”, uma vez que o diretor Ziad Doueiri, em 2012, com O atentado, se tornou persona non grata à figura dos mandatários do governo.
Quando se assiste a O insulto, a lembrança imediata é a de Muito mais que um crime, filme em que Jessica Lange brilhava no papel de uma advogada sob a direção do politizado Costa-Gavras. Quem traz o paralelo é o promotor Wajdi Wehbe (o ótimo Camille Salameh): ardiloso, e, à dada altura, chamado de “cachorro sionista”, ele mantém um segredo familiar que deixa a fita ainda mais instigante.