Crítica: 'Górdona' explora carreira de Maria Alice Vergueiro
Confira a crítica sobre o longa-metragem
Não há mistério da conexão revitalizada pela internet entre a atriz Maria Alice Vergueiro e seu público mais recente, que a conheceu com a esquete Tapa na pantera ou mesmo com o premiado curta brasiliense Rosinha.
Maria Alice, hoje octogenária, entretanto, remete ao caráter transgressor do teatro, com Cacá Rosset, Zé Celso e Gerald Thomas. Com a turma do cinema, ela apostou no underground, passando da trupe de Sergio Bianchi a Guilherme de Almeida Prado. Mas, depois de tanto agito, o que fica para a consagrada atriz? Pouco e muito, dado o olhar da dupla de documentaristas Fábio Furtado e Pedro Jezler em Górgona.
Durante a montagem da peça As três velhas (ao lado dos amigos Pascoal da Conceição e Lucino Chirolli), Maria Alice esperneia, com Mal de Pakinson e entraves de patrocínio, na Companhia Pândega, registrando a ferocidade da figura mitológica que dá nome ao documentário.
Crítica, lúcida e fiel a um inquietante espírito lúdico, a atriz não se deixa abater. Faz bem diferente da acabrunhada Górgona que buscou o anonimato da Ciméria, depois de ver os cabelos trocados por serpentes.
Debaixo dos holofotes, a atriz vê o público e a renda da peça definharem. Seria quase um desprestígio, não estivesse Maria Alice tão apegada a incorrutíveis princípios, entre os quais o de se manter autêntica.
A presença dela é intensa, mesmo que, por vezes, esteja desmemoriada e frágil. Curiosamente, a montagem saída de um texto do dramaturgo chileno Alejandro Jodorowski coincide com a recente passagem do longa dele, Poesia sem fim, noutra veia de celebração do fazer artístico. Jodorowski prega o crescimento, enquanto Maria Alice presa o ocaso.
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