Documentário 'Ex-pajé' aborda a tradição moderna dos índios
O filme de Luiz Bolognesi fala das fronteiras entre a tradição e a modernidade no povo indígena
Coragem, desafios, inimigos, espíritos e medos são palavras constantes no documentário Ex-pajé, de Luiz Bolognesi. Muito do drama reside na inatividade do Perpera que, pela intrusão do branco, vê a aldeia tê-lo por uma espécie de reminiscência (algo derrotada) de contato com a secular tradição dos índios. A ação de evangelizadores mutilou parte da conveniente tensão outrora mantida com os espíritos da floresta.
Vencedor do prêmio da crítica no Festival É Tudo Verdade e no segmento Panorama do Festival de Berlim, destacado com prêmio especial, Ex-pajé expõe os desafios de frear o etnocídio, por década, em andamento. Da intrusão de meios digitais (há até joguinhos de caça, entre as crianças) à ação dos madeireiros, à dependência de carros e comidas de branco, o filme registra os bens reconfortantes da natureza, o uso de flautas de cura (da tolhida pajelança), o poder do fogo e do jejum (como valores culturais) e a serenidade de um ancião quase vencido, mas ainda vivo.