Não há como negar o intrigante apuro visual de Além do homem, filme de estreia do diretor Willy Biondani que, por vezes, se aproxima de videoarte. Carregando uma estranheza forte, o filme traz para o plano central a história do escritor Alberto (o esforçado Sergio Guizé) que parece subverter a linha de O grande mentecapto (filme baseado em Fernando Sabino): às avessas daquele personagem, Alberto está inserido no Brasil interiorano, no qual repudia contatos e se desespera com o desconhecido.

 

Além do homem explora um lugar de isolamento em que personagens encontram a si, em meio à jornada. A falta de racionalidade desafia, na trilha de Alberto, destacado para se inteirar do paradeiro de outro colega intelectual, um antropólogo respeitado na França. Como num pesadelo, ele descobrirá que, sem eixos seguros, “a vida pode ser um grande delírio”.

 

 

Permeado por provocativa música de Egberto Gismonti, o filme se apoia no rito de passagem de Alberto, a princípio, ensimesmado e sem interesse pelos outros. Bem humorada, no começo, a fita traz a divertida dobradinha entre o protagonista e o taxista Tião (Fabrício Boliveira), mais do que inconveniente. Tragado por cultura que despreza, Alberto verá a masculinidade reativada ao ser engolido pelo país tropical, cheios de adoçadas presenças femininas. Destaque, neste ponto, para a atriz Flávia Garrafa (de Talvez uma história de amor), intérprete da fogosa Rosalinda.