'A noite devorou o fim do mundo' sucumbe a convenções de filmes de zumbi
Embora formulaico, o longa de estreia de Dominique Rocher acerta ao abrir brecha para uma crítica ao isolamento
Ricardo Daehn
Publicação:06/07/2018 06:00Atualização: 05/07/2018 17:08
'A noite devorou o fim do mundo' é adaptado da literatura de Martin Page
Num espaço entre a aventura Eu sou a lenda e o impactante Um lugar silencioso, reside o universo dos filmes experimentais, aos moldes de A noite devorou o mundo. Adaptado da literatura de Martin Page (autor de Como me tornei uma pessoa estúpida e de Talvez uma história de amor), o longa de estreia de Dominique Rocher aprofunda questões de gênero do terror.
O protagonista do filme é Sam (o ator norueguês Anders Danielsen Lie), que troca a profissão de escritor pela de músico e assiste, em condição privilegiada, ao fim do mundo. Depois de uma noitada no apartamento parisiense, ele se depara com o seguinte cenário: não há ninguém mais que possa ser designado humano, a não ser ele mesmo. Diferentes etapas de aceitação do fato de estar só, em Paris, constroem rica mise-en-scène para o mesmo ator de produções diferenciadas como Rodin e Personal Shopper.
A transformação e o enfraquecimento do roteiro, porém, resultará num filme convencional e que segue fórmulas das fitas de zumbi. No romance de Pit Agarmen (um dos pseudônimos adotados pelo escritor Martin Page), há presença maciça de uma solidão capaz de ser vertida em crítica ao isolamento de parte da humanidade contemporânea — e, sim, isso acertadamente ecoa no filme.