Crítica: O auto de resistência propõe reflexão sobre o outro lado da lei
Documentaristas Natasha Neri e Lula Carvalho acompanham julgamentos e apontam abuso de poder e arquivamento de processos em casos relacionados à Polícia Militar
Autos de resistência é como a Polícia Militar do Rio de Janeiro chama casos de homicídios cometido pelos policiais em “legítima defesa”. É também o nome do documentário em que Natasha Neri e Lula Carvalho fizeram acompanhando o julgamento de vários desses casos e o trâmite deles na Justiça.
Logo de cara, a dupla de documentaristas mostra que 98% desses processos são arquivados antes de a sentença ser proferida. Auto de resistência, o filme, também alerta para o fato de que há uma cultura de depreciação da juventude negra e moradora de favelas cariocas por meio da Polícia Militar. Nos julgamentos, o público pode ver indícios de abuso de poder, provas plantadas contra jovens inocentes, abordagens aleatórias de meninos e meninas que não têm ligação nenhuma com o tráfico de drogas.
Auto de resistência não esquece a linha de defesa dos policiais, muitas vezes calcadas no argumento de que, por força da profissão, os PMs têm o direito de matar em serviço.
Mais do que um simples registro de julgamentos, o documentário vai atrás da história das famílias das vítimas e mostra um sofrimento que muitas vezes não percebemos: o de ter que contar e recontar o que aconteceu em vários depoimentos. Isso acaba agravando o luto desses familiares. Atual e urgente, Auto de resistência traz uma imagem emblemática de Marielle Franco em passeatas contra a violência policial em favelas.