Crítica: 'Hannah', de Andrea Parllaoro, é um ensaio sobre o silêncio
Longe de ser um filme para todos os gostos, 'Hannah' encerra um ensaio visual sobre a solidão e a finitude das relações
Sem alvoroço, meio na surdina, Hannah leva uma vida bem mais ou menos — aliás, bem pra menos. Num show de contenção, a intérprete do papel título do filme é Charlotte Rampling, perfeita ao ponto de faturar a Taça Volpi de melhor atriz no Festival de Veneza.
Hannah, segundo filme assinado pelo italiano Andrea Parllaoro, aponta para aquela experiência em que o espectador, a depender da paciência, pode se desapontar.
Não é muita coisa que acontece em cena. Ninguém, aliás, se mostra empático ou solidário com Hannah. As maiores relações dela parecem se dar com objetos, plantas e animais. A personagem preenche o tempo entre aulas motivacionais de teatro e o emprego como funcionária de uma casa de família. A terceira idade vem sem maquiagem.
Hannah é daqueles filmes em que, diante do escrutínio e do detalhamento de cada ação, qualquer dica do filme (que tem narrativa dobrada, aos moldes de um folder) pode resultar em spoiler.
Longe de ser para todos os gostos, o filme encerra um ensaio visual sobre a solidão e a finitude das relações. Mesmo as crianças representadas na fita são criadas de forma isolada.
De soslaio, é possível notar do diretor a intenção do cineasta: desmantelar resquícios de empatia. Apartada do papel de avó, Hannah, por exemplo, trava doloroso diálogo com o filho (por telefone): “Continuo sendo a sua mãe... Amo você”. E nada de resposta.