Lady Gaga brilha no longa 'Nasce uma estrela' dirigido por Bradley Cooper
Filme de estreia de Bradley Cooper na direção é feito sob medida para Lady Gaga brilhar como cantora
Em tempos de fake news, não se vê tanto uma contradição em se assegurar uma posição de novidade para o nascimento de uma estrela que, na verdade, já deslanchou faz mais de década. Se a razão de ser do longa-metragem Nasce uma estrela, que marca a estreia de Bradley Cooper, está no encantamento vocal de Gaga, vale dizer que, o filme, tinindo de novo, aporta nos cinemas com enorme carga retrô. E que, sim, o brilho reservado a Ally, o personagem de Lady Gaga, está absolutamente cristalizado na sua excepcionalidade quando investe no canto. Desde já, é memorável o número que encerra o longa de enorme duração, para a minguada proposta.
Não muito longe de um melodrama convencional com muitos clichês de romance, Nasce uma estrela surpreende nos iniciais 20 minutos, quando há o encantamento mútuo entre as figuras de Jack (Cooper) e Ally — ele, o artista no topo, e ela, aspirante a um lugar no sol. Quem simplificará a trama é o irmão de Jack, Bobby (Sam Elliott): "A lagarta vira borboleta".
Ally recobra a confiança, mas mudará muito, uma vez catapultada para o sucesso de cantora. No fundo, o filme é sobre tudo aquilo exaurido em outras produções do gênero: trata de independência artística, de falhas de timing de turnês, de instabilidade emocional e de reabilitação.
Rendição ao sistema — que engole talentos reais e regurgita talentos enlatados — ou preservação de autenticidade formam as bases do drama encenado por Jack e Ally. Claro que a melhor fatia do filme está na vertente inicial, antes de o marasmo da rotina tomar conta do casal.
Numa estranha escolha (entre a responsabilidade de um diretor/produtor), Cooper, por vezes, faz seu papel disparar à frente. Canta de modo convincente e dosa, com parcimônia, as fragilidades do personagem que ele assume.
Na trama de ascensão de Ally, o interesse está no que seja postiço e isso fica elaborado na trilha como futura cantora de sucesso. Autêntico, o pai dela, Lorenzo (Andrew Dice Clay), parece uma exceção no caminho que encontra. À medida que perde a classe e parte dos princípios, Ally dá brechas a constrangimentos e falta de sutileza do roteiro. A entrada de Oh, pretty woman, cantada em cena, e resolvendo um estigma de beleza da protagonista, é exemplo gritante disso.