Brasília-DF,
19/ABR/2024

Confira a crítica: 'A casa que Jack construiu' tem violência levada ao extremo

Levitando num purgatório (tomada como referência 'A divina comédia'), Jack tem como vocação o pendor demoníaco

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Ricardo Daehn Publicação:16/11/2018 06:00Atualização:16/11/2018 09:33

Cena do filme 'A Casa Que Jack Construiu', com Matt Dillon e Uma Thurman. (California Filmes/Divulgação)
Cena do filme 'A Casa Que Jack Construiu', com Matt Dillon e Uma Thurman.

 

Ver o ator Bruno Ganz em cena de um filme de Lars von Trier pende à materialização de um deus e o diabo do cinema. Explica-se: Ganz, no passado, viveu um anjo em Asas do desejo (1987) enquanto encampou o total maquiavélico, na pele de Adolf Hitler (no longa A queda!). Em A casa que Jack construiu, porém, ele não tem nada de vitalidade: está carrancudo e sonolento, na pele de Virgílio, confidente do verdadeiro mal encarnado na Terra — o serial-killer Jack (Matt Dillon).


Levitando num purgatório (tomada como referência A divina comédia, na qual Virgílio esteve), Jack tem como vocação o pendor demoníaco. É a deixa para que a plateia perceba: ultimamente, o diretor Lars von Trier demonstra que não precisa de público; precisa mesmo é de tratamento médico.
 

Pedante e sádico, ele se apega ao exame lógico e ao registro de depravação corrosiva, ao acompanhar anseios do protagonista — o Sr. Sofisticação (Dillon), que tenta liquidar parte da humanidade, com “aleatório” filtro sexista e ainda gabando-se de exercer arte, por meio de carnificina. Para se ter ideia, um seio extirpado é ostentado, por Jack, como uma discreta carteira de bolso.

Com sobrecarga de questionamentos, escolha de repertório musical esperto (que agrupa Bach, Vivaldi, e David Bowie!) e valorização de “ícones” como Stalin e Hitler (tidos como produtores de uma “arte extravagante”), o diretor se perde. Contraposto a Virgílio — repetitivo ao exaltar que “sem amor não há arte” —, Jack segue narrando as atrocidades — que rendem imagens absurdamente violentas para a telona.

Em meio a uma coleção de cadáveres, seguem-se os discursos sobre putrefação (pessoas são reduzidas à matéria e são esclarecidos detalhes da produção de vinhos como os sauternes, derivados de “podridão nobre”). Com postura autorreferencial (há trechos de Anticristo e Melancolia, entre outros), von Trier descamba para um terreno infértil que, é bem verdade, se desprende das limitações de se encarar um filme de serial-killer, de frente —, mas, ao mesmo tempo, sabota o público, dada a absoluta falta de humanidade de Jack. Entre citações de filmes, indiretamente, von Trier apela para Taxi driver e Annabelle

 

 

 

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