Crítica: 'O colar de Coralina' é um sofisticado 'Sítio do Picapau Amarelo'
Longa, que é destinado ao público infantil, mergulha na poesia de Cora Coralina
Ricardo Daehn
Publicação:23/11/2018 06:03Atualização: 22/11/2018 17:34
Letícia Sabatella vive Jacinta, mãe de Cora Coralina, em 'O colar de Coralina'
Com um quê de sofisticado episódio do Sítio do Picapau Amarelo, O colar de Coralina cumpre, sem grandes avanços de roteiro, a básica tarefa de ajustar relatos de parte da infância da poeta Cora Coralina às tarefas femininas.
Entre a resignação de um mundo que enquadrava mulheres ao repasse da opressão de gerações e conversas com o anjo da guarda, a menina Cora interage com figuras pertencentes à válvula de escape, talhada na literatura, e que abriga seres como o Curupira e o Pequeno Polegar.
Castigos, folguedos e situações bem simplórias estão no longa que adapta o poema O prato azul-pombinho. Uma superação solitária de adversidades ronda a protagonista interpretada por Rebeca Vasconcelos.
Pouco dinâmico, o filme se atém à convivência das inúmeras mulheres (entre as quais, a mãe Jacinta, feita por Letícia Sabatella, e a avó Dindinha, papel de Paula Passos) na Casa Velha da Ponte.
O relato de pequenos gestos, cenário embelezado pela direção de fotografia de Dizo dal Moro, e um elenco irregular compõem o longa de Reginaldo Gontijo. Com alguns momentos sensíveis, e uma atmosfera de era ultrapassada, O colar de Coralina imprime no público juvenil noções de respeito e hierarquia, além de adocicar a tarefa, exercida com garra e assombro, de Cora — na lida com a leitura e a escrita.