Crítica: Atuações esplendorosas coroam 'A favorita'
Recordista de indicações ao Oscar deste ano encanta pelo roteiro, pelas atuações e pela fotografia
Ricardo Daehn
Publicação:25/01/2019 06:00Atualização: 24/01/2019 15:22
As atuações femininas são arrebatadoras em 'A favorita'
Na trama de A favorita, há quem pise, dissimuladamente, numa lebre de estimação de uma autoridade real. A situação esdrúxula cabe perfeitamente no cinema do grego Yorgus Lanthimos, sempre preocupado em aproximar homens dos bichos, sem maiores ressalvas. Pesa no filme, dotado de humor sorrateiro e de existências tristes, o fato de ter base na realidade do reinado, no século 18, da última descendente da família Stuart, destacada com poder estendido da Escócia à Inglaterra, e soberana ainda na Irlanda.
Com justiça, A favorita carrega 10 indicações na corrida pelo Oscar que não se limitam à qualidade técnica, sempre valorizada nos filmes de época. Do roteiro à inspirada direção, passando por uma edição dinâmica, o filme é coroado pelo desempenho de três atrizes esplendorosas, e se vale de uma fotografia inovadora para os padrões das fitas palacianas de Robbie Ryan, colaborador dos filmes de Ken Loach.
Se uma rainha nunca perde a majestade, a protagonista Anne (Olivia Colman, embasbacante) terá de fazer miséria para assegurar o ditado. Festiva, em meio a tensões bélicas que enfraquecem seu domínio, ela ainda se prova ciumenta, chorona, inconstante e isolada. Personagens de funções desproporcionais e desvirtuadas, em relação à corte, se multiplicam na telona com o filme que parece algo inspirado na Rainha de Copas de Alice no País das Maravilhas.
Com a maturidade narrativa de um longa de Paul Thomas Anderson (Trama fantasma), Lanthimos explora um roteiro dividido em capítulos, no qual despontam artimanhas para a conquista do coração de Anne — que não passam de estratégias maquinadas pelas subalternas Sarah (Rachel Weisz) e Abigail (Emma Stone), ambas deslumbrantes e manipuladoras.
Má parideira para os cruéis padrões de sua monarquia, Anne amargou a perda de 17 filhos, e cambaleou numa existência trágica que alternava insanidades, traições e um ego sujeito a falsos afagos de terceiros. Num jogo perverso, Sarah e Abigail aparam arestas de uma pessoa sem medidas, entregue à fragilidade, mas, ainda assim, astuta.
Indicações ao Oscar
- Melhor filme
- Melhor diretor (Yorgos Lanthimos)
- Melhor atriz (Olivia Colman)
- Melhor atriz coadjuvante (Emma Stone)
- Melhor atriz coadjuvante (Rachel Weisz)
- Melhor roteiro original
- Melhor edição
- Melhor fotografia
- Melhor figurino
- Melhor direção de arte