Animação brasileira 'Tito e os pássaros' estreia nesta semana
Produção chama a atenção pelo visual em pintura manual a óleo
Verdade seja dita: não tão inovadora, a trama do longa de animação nacional Tito e os pássaros não dispõe (em alguns momentos) do refinamento dos diálogos dos roteiros desenvolvidos em Hollywood. Privilégio, daí, de compreender uma objetividade e um acesso direto ao público preferencial da fita: as crianças.
Com tema edificante, o despertar do medo e das inseguranças, o filme de Gustavo Steinberg, Gabriel Bitar e André Catoto é singular no traçado adotado para a animação. Por mais que os diretores reclamem terem revestido o filme com dimensões expressionistas, uma referência mais brasileira pipoca na tela, e vem da literatura: o visual do filme lembra por demais o clássico de Ângela Lago Cena de rua. A criatividade da equipe é ampla, com a adoção de pinturas (manuais) a óleo.
Um dos personagens do longa — a mendiga desprezada — tem uma dimensão decisiva que faz lembrar a senhora dos balões de O retorno de Mary Poppins: num preâmbulo, a personagem deixa entrever o papel vital dos pombos ao desfecho da trama. O protagonista do filme é o inseguro Tito que, mais do que presenciando desavenças entre o pai e a mãe dele, segue sendo a razão (indireta) dos desentendimentos e empreende uma rotina com quê medíocre no colégio.
A paternidade é uma das abordagens fortes na fita em que Tito tem por adversário virtual o rico e arrogante colega Teo, filho do magnata Alaor, que está disposto a trancafiar todo mundo num estilo de vida ligado à redoma de um condomínio inacessível. Para piorar todo o cenário, uma epidemia ameaça as pessoas que passam à condição paralisada, aos moldes de monólitos.
Em certa dimensão, o filme reflete algo do país atual — com incitação à violência, competição desmedida (Teo se empenha, sem limites, em tarefas escolares) e apartamento social pesado.