Crítica: 'Lembro mais dos corvos' apresenta narrativas coloridas
Produção conta com Julia Katharine e é dirigido por Gustavo Vinagre
Ricardo Daehn
Publicação:22/02/2019 06:00
A atriz Julia Katharine está no centro das atenções em 'Lembro mais dos corvos'
Longa jornada noite adentro foi um filme clássico com Katharine Hepburn estrelando um drama denso que serve como possível apresentação da mais nova investida do diretor Gustavo Vinagre no terreno do hibridismo. Com a câmera fechada na atriz transsexual Julia Katharine, o diretor deita e rola na exposição de uma figura bastante interessante, ora construída, ora autêntica.
Lembro mais dos corvos é daqueles documentários que exaltam a criatividade e a potência de narrativas coloridas e carregadas de verdade, mesmo afundadas no terreno movediço da mentira.
Egocentrismo, vulnerabilidade e anedotas como o do roubo das fitas praticado numa locadora pela atriz que idolatra Katharine Hepburn, Vivien Leigh e Nicole Kidman, povoam a trama. Sem formação para o drama, Julia se revela constrangida e, por vezes, até objetificada, ao mesmo tempo em que demonstra completa tranquilidade na busca por uma identidade mais confortável.
Com a realização no cinema, Julia Katharine detona, por exemplo, a limitação de Lars von Trier no trato com Ninfomaníaca, filme que à luz de suas experiências parece “conto da carochinha”.
Divergências em papéis sexuais, perturbações (financeiras e mentais) e relatos de rebeldia concorrem como molho, a cada episódio relatado, muitas vezes, avizinhado de completa lorota. Entre traumas com abusos e decisões de tom polêmico, Lembro mais dos corvos dá oportunidade única para se acessar uma pessoa (e os pensamentos da “louca”, como ela se categoriza) que nada de braçada sem queixumes, nas mazelas, mas rumo ao seguro escapismo proporcionado pelo cinema.