Brasília-DF,
23/ABR/2024

Documentário 'Diários de classe' acompanha rotina escolar de estudante trans

Longa foi grava na Bahia e mostra as dificuldades de Tifanny diante dos demais estudantes

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Ricardo Daehn Publicação:08/03/2019 06:01

Estreantes, os diretores Maria Carolina da Silva e Igor Souza localizaram o enredo do documentário 'Diários de classe' na Bahia
 (Igor Souza/Divulgação)
Estreantes, os diretores Maria Carolina da Silva e Igor Souza localizaram o enredo do documentário 'Diários de classe' na Bahia

O ano era 2017, e, em exibições restritas, o longa-metragem Diários de classe trazia uma cena quase profética (atrelada a respeito e sapiência): alunos pequenos, na narrativa, desconheciam uma transexual fora de sua particularidade (e que teimava em vestir roupas de menino); em coro, os alunos disseram — “Menina se veste de menina, e não de menino”.

 

O relato é de Tifanny, que deixou a antiga identidade de Carlos Moura para trás. Tifanny, que, entre outros assuntos, fala de violência sofrida no âmbito da família, é parte crucial no documentário de longa conduzido pelos estreantes Maria Carolina da Silva e Igor Souza. Alfabetização tardia, carência econômica e julgamentos apressados (“julgam ou excluem como se pessoas fossem lixo”, pontua um dos focalizados) estão na mira dos parceiros diretores.

 

Confira as sessões! 

 

“Estou à mercê da Justiça”, observa outra das personagens do filme que lembra, no vigor e na secura, o duro Justiça, assinado em 2004, pela brasiliense Maria Augusta Ramos. Em Diários de classe, ainda há mais casos de estigmatização de “pretos, pobres e periféricos” (como sublinhado): a doméstica Maria José, que, no passado, ficou três dias ao relento, e hoje tem discurso afiado contra casos como o da colega Célia, que dá a entender ser quase da família, na casa em que criou crianças de outros e que lhe garante aquele sustento (não encontrado no dia a dia de estudante com idade mais avançada). No filme que examina estruturas de projetos de ressocialização brotam frases de impacto como “Acham que trabalhadora doméstica é posse”, “Vandalismo é a bala perdida” e “Todo preto na cadeia é um preso político”.

 

Dados como os 80% de negras integrarem as instituições de ressocialização e a ligação de 60% delas com o tráfico de drogas trazem, em si, alerta para reflexão sobre presídios femininos. Há momentos de arejamento no filme, e que até levam à dose de humor amargo (quando, no lugar de um “advogado de verdade”, uma contraventora entende que, por meses, foi ouvida por um estagiário). A falta de conhecimento “das escrituras” que aflige um pastor, quando o assunto é a (inesperada) sexualidade desabrochada por terceiros, se reproduz em outras camadas de ignorância, como na cena em que uma detenta cobra a explicação do código penal que ela tenta manejar. Os finais nem tão felizes de trajetórias registradas no longa falam por si.

 

Confira o trailer de Diários de classe 

 

 

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