'Suprema' traz a questão igualitária nas leis para homens e mulheres
Na companhia de Marty (Armie Hammer), Ruth (Felicity Jones) afirma, progressivamente, seu estrelato dentro do meio jurídico norte-americano
Ricardo Daehn
Publicação:15/03/2019 06:01Atualização: 14/03/2019 16:08
Fita mostra a luta pela conquista de direitos das mulheres
Um marco de mudança social, a quebra de obstáculos para leis ultrapassadas e horizontes para uma convivência harmônica entre homens e mulheres pontuam muito do roteiro de Suprema, o mais novo filme assinado por Mimi Leder. Curiosamente, com traçado indesejado entre ficção e realidade, a diretora respondeu por A corrente do bem, filme estrelado pelo pouco bem-intencionado astro (à época) Kevin Spacey. Agora, com Suprema, vem um arejamento — um cinema que reflete positividade, a exemplo de Estrelas além do tempo, título bem acolhido que versa sobre liberdade e em torno da expansão do mercado de trabalho para a afirmação de mulheres.
Situado inicialmente em 1956, o longa avança no tempo (concentrando muito da ação nos anos de 1970), ao tempo em que lima retrocessos ligados à lei. Centrado na figura da estudante de direito Ruth Bader Ginsbug (Felicity Jones), uma das 10 alunas que "tomaram" vagas do hegemônico corpo discente de Harvard. Sendo "a razão o cerne de qualquer lei", como enuncia a fita, é por meio deste brilho, o da racionalidade, que Ginsbug se impõe, a caminho de se tornar uma das representantes da Suprema Corte norte-americana.
Confira as sessões
Confira as sessões
Nem professora nem enfermeira: pelo esforço pessoal, a protagonista se desvia do destino reservado à maioria das mulheres americanas da época. Ela carrega consigo a responsabilidade e o peso de quebrar tradições operantes e que privilegiavam homens. Com ares de galã, nem mesmo Armie Hammer (que já personificou um príncipe no cinema), na pele de Marty (o marido de Ruth — advogado de grande renome), posa como trampolim de apoio para Ruth — aliás, a bem da verdade, com câncer de testículo, ele, inclusive, endurece a trajetória de glórias da protagonista. Em cena, Hammer entrega a generosidade do ator e personagem, capaz de se apagar, em momentos, para acentuar o olhar de admiração ante a mulher.
Baseado na realidade, Suprema coloca em cena personagens críveis, como o ex-advogado-geral dos Estados Unidos Erwin Griswold (Sam Waterston) e a juíza feminista Dorothy Kenyon (Kathy Bates). Só a relação com a filha Jane (personificada por Cailee Spaeny), uma espécie de inspiração, parece forçada. Junto com ótima dimensão para as encenações do teatro jurídico montado em cada tribunal, Suprema corrói instituições, trata de revisão de cargas tributárias, discute moralidade, propõe afirmação positiva, alerta para a necessidade de cuidadores e, de quebra, trata de equivalência de gêneros — tudo muito atual.