Godard monta um quebra-cabeça em 'Imagem e palavra'
O diretor franco-suíço trata de inconformismo, de violência, do espólio de países que têm pouco a entregar para a gana imperialismo
Ricardo Daehn
Publicação:15/03/2019 06:02Atualização: 14/03/2019 16:07
O cineasta se utiliza de fragmentos de diferentes obras para montar o filme
Mais do mesmo? Talvez, mas, mesmo requentada, uma marmita servida pela genialidade do diretor Jean Luc-Godard soa a banquete. E assim é com Imagem e palavra, no qual o diretor franco-suíço cravou a oitava chance de concorrer à Palma de Ouro em Cannes, numa trajetória que incluiu exibições de Elogio ao amor (2001), Adeus à linguagem (2014) e Nouvelle vague (1990). Levou o prêmio especial, em 2018.
A seu modo, com domínio da atenção do espectador, Godard se apropria de um volume assustador de fitas alheias. Trata, com o filme, de inconformismo, de violência, do espólio de países que têm pouco a entregar para a gana imperialismo e ainda para a era obscura da limitação na leitura, outrora desveladora de maior sapiência.
Confira as sessões
Confira as sessões
Godard pode estar algo desiludido, aos quase 90 anos, mas há vitalidade em seu discurso. É como se ele entregasse um longo poema, calibrado pela inspiração de outros gênios do cinema, entre os quais Pier Paolo Pasolini e Nicholas Ray. Acusando a invisibilidade ao universo das culturas árabes, temendo em torno da desumanização dos seres contemporâneos, o diretor ainda encontra espaço para encantar, especialmente quando refina o olhar sobre relações das mais simples possíveis.