É pela persistência que o diretor iraniano Jafar Panahi se expressa: segue apontando a câmera para uma estrada sempre a ser desbravada, apesar de, continuamente, encontrar a estagnação e os solavancos. Foi assim que, mesmo em prisão domiciliar, seguiu desafiando cerceamentos impostos pelo governo iraniano em fitas como 3 faces, vencedor do prêmio de melhor roteiro em Cannes.

Como de praxe, no novo 3 faces, o diretor aparece em cena, encenando a própria persona. A atriz Behnaz Jafari acrescenta veracidade, representando a si, e servindo de bússola para que a jovem Marziyeh Rezaei, aspirante a atriz, quebre convenções de seu vilarejo e imponha vontades.

A opressão feminina já foi tema de Panahi, em O círculo (2000), vencedor do Leão de Ouro em Veneza. No novo filme, há uma dinâmica aterradora, desde a primeira imagem que aponta para o suicídio de uma moça sufocada pela tradição e incapaz de se libertar. O caso mexe com Behnaz, presa num ciclo de sucesso televisivo, em que reprisa, num esquema de looping, os papéis que comprazem o público fiel.

O diretor, na contramão da feminilidade, de modo sutil, contrapõe tópicos arraigados ao universo masculino, em que pesa o acasalamento (representado pelo animal da trama) e destino quase místico de elementos como o prepúcio (impositor de destinos, citado por um ancião); tudo isso, além da demonstração de força bruta. Ao final do longa, praticamente sem diálogos, Panahi num longo plano dá conta de imprimir uma lufada de esperança para o avanço das mulheres. Mas, prova que, entre seres extremados, ainda pesa o desencontro.