Reconhecido em mostra paralela em Cannes, 'Border' concorreu ao Oscar de melhor maquiagem

Quem se vê desafiado ao assistir às fitas de David Cronenberg e David Lynch terá ainda muito mais trabalho com o rico universo criado pelo diretor iraniano Ali Abbasi em Border. Numa atmosfera densa, nada passa despercebido pela fiscal de alfândega Tina (Eva Melander); ela, repleta de sensibilidade, é uma verdadeira pára-raios de vergonha, culpa, raiva e demais sentimentos de terceiros. Dentro de uma rotina com poucas matizes, Tina terá a vida virada do avesso, ao esbarrar em Vore (Eero Milonoff).

De hábitos primitivos, capaz de empilhar quilos de salmão no prato de uma refeição (complementada por insetos frescos), Vore parece mais um animal selvagem a estreitar a relação com Tina, que mora afastada de cidade grande. Enquanto ela se percebe “deformada”, Vore a louva como “perfeita”. Na natureza, Vore e Tina se completam, e, aos poucos, ela enciuma Tomas (Matti Boudstedt), um inoportuno hóspede no chocho dia a dia.

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Com uma tônica forte em clima surreal, ternura e maldade parecem digladiar no filme de Abbasi, num terreno nem tão distante dos humanos. Há um momento, aliás, em que um dos personagens reforça a condição de ser “apenas” um ser humano.

Concorrente ao Oscar de melhor maquiagem, o longa faturou o prêmio principal do segmento Um Certo Olhar, do Festival de Cannes deste ano. Pedofilia numa instância suprema de degeneração, comportamentos animalescos e climas pesados habitam a perturbadora obra.

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