'A grande dama do cinema' mescla farsa e mordacidade
A atriz argentina Graciela Borges interpreta a diva Mara Ordaz, que, recolhida numa espécie de Retiro dos Artistas, sonha em voltar ao estrelato
Ricardo Daehn
Publicação:17/05/2019 06:06Atualização: 16/05/2019 18:44
A personagem Mara Ordaz quer voltar ao estrelato do auge da carreira de atriz
Esqueça o título pomposo e a associação do diretor argentino do filme, Juan José Campanella, a melodramas. Adaptado de enredo criado pelos veteranos escritores Augusto Giustozzi e José Martínez Suárez, A grande dama do cinema ficaria melhor sob o título original que remete a doninhas espalhadas pelo pátio de uma afastada propriedade de campo.
O filme parece um cruzamento do recente Julia e a raposa com a obra-prima ao qual, assumidamente, presta homenagem: Crepúsculo dos deuses (1950). Engrenado num estilo que mescla mordacidade e farsa, A grande dama do cinema se escora no talento de Graciela Borges (O pântano), já beirando os 80 anos de idade.
Atriz adorada entre os hermanos desde os anos de 1950, Graciela interpreta a diva Mara Ordaz, recolhida no que parece um Retiro dos Artistas: convivem com ela, o débil marido Pedro (o ótimo Luis Brandoni, de Minha obra-prima) e a dupla de roteiristas diretores que projetaram seu talento no passado: Norberto (Oscar Martínez, de Ninho vazio) e Martín (Marcos Mundstock, de Cama adentro). Uma perfeita dupla de cínicos aposentados.
Sem a doçura de O filho da noiva (2001), sem o habitué Ricardo Darín e sem o suspense enervante de filmes como O segredo dos seus olhos (2009), Campanella não se sai tão bem como de costume, estando num terreno movediço. O que agita a trama é uma brecha na insana mente de Mara Ordaz: ao lado de jovens estranhos que visitam o casarão, ela vê a possibilidade de retorno ao estrelato. Seguem-se planos mirabolantes e crimes.