Drama mostra ação diabólica dentro de ambiente sagrado
Graças a Deus é um drama que revela escandalosos efeitos da ação de padres pedófilos dentro da sagrada esfera da Igreja católica

Polêmico no título, que reproduz uma declaração desastrosa de um figurão da igreja referente ao acobertamento e à prescrição de crimes em episódios relacionados ao abuso sexual de crianças por parte de padres, o novo filme assinado por François Ozon (Jovem e bela e O amante duplo) se revela ponderado.
Melhor; visto que o tema, em si, incendeia. E, numa escalada de assuntos espinhosos, o longa abraça série de casos verídicos. O papel mais ingrato do filme, o do traiçoeiro padre Preynat, cabe a Bernard Verley. Idoso, ele se desprende da imagem de pura maldade, e cria um personagem repulsivo, capaz de admitir as atrocidades cometidas contra pré-adolescentes, em acampamentos de escoteiros incentivados pela Igreja.
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Grande Prêmio do Júri, com direito ao Urso de Prata no Festival de Berlim, Graças a Deus vem embalado por roteiro sedimentado em episódios, num crescente, marcantes. Primeiro, de modo morno, vem à tona as dores de Alexandre (Melvin Poupaud), um pacífico pai de família, resignado pela fé. Na sequência, há a investida na bravura de François (Denis Ménochet), agente de mobilização, e, por fim, transborda a represa de dores de Emmanuel (o soberbo Swann Arlaud), incapaz de lidar com as sequelas de tanta brutalidade. Um filme difícil, com trama estarrecedora e direção madura.