Memórias desencontradas de filha de ativista nutrem Deslembro
Um trecho de livro de Fernando Pessoa demarca o reencontro de uma moça consigo mesma, depois que, vinda da França, ela chega ao Brasil
Confusão é algo inerente ao enredo e ainda mais à cabeça da protagonista do mais recente filme de Flávia Castro. Como num quebra-cabeça, a jovem Joana (Jeanne Boudier) tenta remontar o passado. No começo, nem transparece tanto esforço, já que ela está apegada ao cotidiano, no exterior, ao lado da mãe Ana (Sara Antunes) e do resto da família. Um passado no Brasil pré-anistia coloca a moça em contato interno com o famoso aparato repressor chamado Departamento de Ordem e Política e Social (o Dops, extinto em 1983).
Multicultural e letrado, além de imersa numa dinâmica que não parece natural, no filme, o núcleo de personagens que cercam Joana conversa com Diário de uma busca (2010), documentário também a cargo de Flávia Castro. “Tão parada em si”, adulterando um pouco a poesia de Fernando Pessoa que rendeu inspiração para o cerne de Deslembro, Joana transborda em conflitos internos, registrados sem focos profundos no filme.
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Músicas de Caetano Veloso, The Doors e Lou Reed auxiliam na criação do clima retrô/descolado. A boa fotografia a cargo de Heloísa Passos tem paralelo na vívida interpretação de Eliane Giardini, na pele da avó. O mesmo não se estende para o resto do elenco. Deslembro, vale reforçar, venceu, no Festival do Rio, prêmios de público e dos críticos.