'O bar Luva Dourada' traz toda a força do cinema alemão
O longa tem como central o personagem Fritz Honka, homem que serrou mulheres, em Hamburgo, nos anos de 1970
Ricardo Daehn
Publicação:19/07/2019 06:01Atualização: 18/07/2019 17:47
O bar Luva Dourada: composição inspirada do ator Jonas Dassler
Um exaustivo estudo de comportamento e da falta de pudores coletiva de um grupo de desocupados enfurnados num antro em que há disputa pela última gota de álcool. Talvez essa seja a mais suave descrição do mais recente filme do diretor alemão Fatih Akin, há mais de 20 anos dono de carreira sólida. Há dois anos, Akin venceu o Globo de Ouro pelo atordoante filme Em pedaços, estrelado por Diane Kruger, considerada melhor atriz no Festival de Cannes.
Feminista, com talvez a caracterização mais contundente de 2017, neste sentido, Kruger parece representar o extremo oposto do retrato levantado em O bar Luva Dourada. Agora, o interesse está no personagem criado por Jonas Dassler: ninguém menos do que Fritz Honka, homem que, na realidade, existiu e serrou mulheres, em Hamburgo, nos anos de 1970.
Confira as sessões do filme aqui.
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Ao dar voz à marginália, Akin abre as portas para a perplexidade, e deixa de lado a beleza de seus filmes mais amenos. O bar Luva Dourada dialoga com o radicalismo de Lars von Trier (Anticristo) e de Gaspar Noé (de Sozinho contra todos e Irreversível), além de deixar no chinelo os psicopatas de filmes mais hollywoodianos como Pecados íntimos e Um olhar do paraíso. O círculo vicioso e escravizante reservado a pessoas inaptas à regeneração, com linguajar chulo e traquejo social bizarro, aproxima Fatih Akin da obra teatralizada de Rainer Werner Fassbinder. Perturbador, agressivo e verdadeiro teste para os nervos do espectador, O bar Luva Dourada imprime a força de um cinema bruto.