Confira crítica do filme 'Era uma vez em... Hollywood', de Quentin Tarantino
Produção com Brad Pitt e Leonardo DiCaprio faz uma homenagem torta à indústria cinematográfica
Ricardo Daehn
Publicação:16/08/2019 06:01Atualização: 15/08/2019 18:14
Leonardo DiCaprio e Brad Pitt são as estrelas do longa
Tem carnificina? Tem humor enviesado? Tem referências intermináveis a movimentos e à história do cinema? Se a resposta a tudo isso for positiva, como é no caso do longa Era uma vez em... Hollywood, há muita chance de que você esteja assistindo a um filme de Quentin Tarantino. Com ares de um Jack Nicholson dos anos 1970, Leonardo DiCaprio assume o protagonismo, na pele do solitário Rick Dalton, um astro na corda-bamba que vive quase à sombra do ex-dublê de seus filmes, Cliff Booth (Brad Pitt). Perambulam, ambos, numa Los Angeles apinhada de hippies que vivem, com sol a pino, vidas de vampiros.
Enquanto Dalton que por destino tenta se reerguer atuando no cinema italiano (que ele considera “uma farsa do cacete”), dominado pelo gênero do spaghetti western; Booth corre, numa vida mais colorida, de Cadillac, por avenidas largas, come direto da panela, e — de camisa florida —, ao lado da juvenil Pussycat (Margret Qualley), ouve alguém dizer: “A gente ama Pussy”; ao que completa, maliciosamente: “Sim, nós amamos”. No embate cotidiano, Booth parece mais satisfeito do que o mestre capaz de se identificar com o personagem literário de um western chamado de Brisa Boa — “mais inútil, a cada dia”. Na queda da ficha da chegada da idade, DiCaprio (que se inspira, em dado momento, no Samuel L. Jackson de Pulp fiction) dá um show de interpretação, numa cena de choro. Em comunhão, Booth e Dalton vivem, como um narrador aponta, a relação de serem “mais do que irmãos, e pouco menos do que esposa”.
De certo modo, com Era uma vez em... Hollywood, Tarantino apresenta sua incursão à la David Lynch que celebrou (!?) Hollywood com Império dos sonhos e Cidade dos sonhos. Como pano de fundo, pra lá de tenso, está uma tragédia latente, no filme ambientado em 1969: Dalton é vizinho do trisal formado por Roman Polanski (Rafal Zawierucha), Sharon Tate (Margot Robbie) e Jay Sebring (Emile Hirsch). O pior — como inscreveu a história, há 50 anos — estava por acontecer, numa morte violenta para algumas das celebridades extraídas da vida real. Tudo creditado a desgarrados e insanos ripongas seguidores de Charles Manson. Vale a ressalva de que, Booth e Dalton, são nada além do que imaginação de Tarantino, que assina o roteiro.
Confira as sessões do filme
Confira as sessões do filme
No fundo, Tarantino efetiva uma declaração de amor ao cinema — um tanto longa e com abordagens fora da curva (que trucidam o politicamente correto em voga; como no caso da morte da esposa insuportável). No repertório para futuras antologias, o cinema de Tarantino está afiado: há a cena de combate nas artes marciais, a participação da precoce menina interpretada por Julia Butters, Pitt saltando para o conserto de uma antena de tevê, agressões estilosas da cachorra Brandy (cachorra premiada com a Palm Dog, no Festival de Cannes) e as coreografias dos personagens alterados por drogas — tudo isso ao lado de um moribundo personagem vivido por Bruce Dern.