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25/ABR/2024

'It: capítulo dois' começa com cara de clássico, mas tem final fraco

Comentário feito por Stephen King, que atua no filme, a um dos personagens, parece se aplicar o próprio filme, mas o longa também tem acertos

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Ricardo Daehn Publicação:06/09/2019 06:06Atualização:05/09/2019 18:27
It é uma das franquias mais festejadas do cinema de terror (Warner/Divulgação)
It é uma das franquias mais festejadas do cinema de terror
 
Apostando num registro de imagens nada sutis e extremamente gráficas, além de uma overdose no repeteco de narrativa esquemática (tal qual no primeiro filme), o diretor Andy Muschietti põe muito a perder, nesta continuação de fenômeno de bilheterias de dois anos atrás. A passagem de tempo, entre as duas ações de It: a coisa e It: capítulo dois, cronometra 27 anos; daí vem uma das mais gritantes incoerências do filme: estariam os cérebros dos protagonistas congelados, na Terra do Nunca? Com atuações pouco moderadas (descontados os ótimos James McAvoy e Jessica Chastain), impressiona a nulidade na maturidade — claramente inexistente — dos amigos que se reencontram na trama. São adultos, seguindo cartilha de comportamento infantil.
 
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Desenterrar passados vira um bê a bá não só para o grande vilão do filme, o palhaço Pennywise, mas ainda é tarefa adotada por Mike (Isaiah Mustafa) que se ocupa de acionar cada um dos amigos do passado, a fim de derrotar o vilão, no seu aguardado retorno. It: capítulo dois desponta nas cenas iniciais como grande candidato a novo clássico, dado que não se confirma, quando das escolhas do diretor Muschietti. Manipulados, amigos novamente reunidos, entre os quais Richie (Bill Hader), Ben (Jay Ryanb) e Eddie (James Ransone), sabem das tramoias em que meterão, ao afundar em traumas do passado.

Um problema no filme está em os efeitos especiais e nos eventos aterradores serem superados por episódios reais (dentro da ficção, ou seja, do filme). A brutalidade se espalha, quando da passagem dos personagens gays (tidos como “trastes” pelas mentes pequenas que habitam Derry) pela telona ou ainda pelo bullying desferido no gordinho Ben (quando da versão criança, vivido por Jeremy Ray Taylor). Acrescenta-se a isso, o ataque sofrido por Beverly (Jessica Chastain) às vias de possível feminicídio e um serial killer à solta em Derry. Exagerado nas dimensões, o palhaço malvado do filme, por vezes, assemelha-se a um dragão; mas segue horripilante na cena em que, por exemplo, lambe vidros de uma sala de parque de diversões. Quando atua na surdina, estourando corpos como se fossem espinhas, Pennywise choca.

Acertos

Até o clichê final, que reúne muitos dos personagens num choro coletivo, It: capítulo dois parece, no discurso, pulsar a lição interminável do "seja quem queira ser"; tudo oportuno, mas exaustivo, pela exaustiva duração do filme. Mas há acertos no filme, a começar pelo exercício de metalinguagem que traz para uma cena, a presença de Stephen King (autor, na vida real, do livro em que a fita se baseia). No papel de um dono de antiquário, ele contracena com Bill (McAvoy), escritor que até oferece autógrafo, prontamente recusado por King. Mas o recado dado a Bill — de que ele tece romances com finais chochos parece se aplicar a It: capítulo dois.

Toda a sorte de gêneros de cinema pavimenta o filme, que tem ares até mesmo de uma aventura à la Spielberg. Com cenas em parque de diversões que dão ares de um Alice no País das Maravilhas de um Tim Burton, o filme contempla versões de monstros com estrutura de aracnídeos e se vale de citações imediatas a King, remexendo em Carrie, a estranha; num banheiro inundado com sangue (tipo o elevador de O iluminado, de autoria de King) e ainda na inesquecível sentença de um amalucado Jack Nicholson — "Here’s Johnny!". São detalhes que não passam despercebidos, caso ainda da participação do diretor do clássico A última sessão de cinema, o excepcional Peter Bogdanovich, fazendo papel dele mesmo.
 
 

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