Fé inunda os cinemas com a estreia de 'Divaldo - O mensageiro da paz'
O longa é baseado em fatos reais e exibe a história do médium Divaldo Pereira Franco
Não há espaço para sutilezas, quando o debate em torno do longa-metragem Divaldo — O mensageiro da paz alcança vertentes de bons e maus espíritos. De certo modo, paira uma esfera que dialoga com o preto no branco visto em A paixão de Cristo (2004), de Mel Gibson. Mas, no fundo, isso pouco importa, uma vez que todo o peso e o magnetismo de Guilherme Lobo (do longa Hoje eu quero voltar sozinho) tomam conta da fita que começa a narrativa, nos anos de 1930, em Feira de Santana (Bahia), quando das manifestações da mediunidade do protagonista Divaldo Pereira Franco (hoje, com 92 anos, na vida real).
Laila Garin (a mesma da peça Elis, a musical), num trabalho louvável, interpreta a mãe de Divaldo, Dona Ana, que estimulou o filho a seguir no espiritismo, em obra filantrópica que desembocou em feitos como o da criação da Mansão do Caminho (dedicada aos cuidados para órfãos). Na pele do Espírito Obsessor, também chamado Máscara de Ferro, Marcos Veras (de longas como O filho eterno) se destaca, hábil em propor atalhos malévolos para a obra de Divaldo e abrindo brechas para episódios que resultem em falta de solidariedade.
Confira as sessões do filme no cinema
Elemento de difícil equilíbrio num drama cinebiográfico, o humor envolve, no roteiro desenvolvido por quatro profissionais (num time que inclui o diretor Clovis Mello). Um dos méritos na obra é a atenção que dispende com personagens que circundam Divaldo (numa das etapas, interpretado por Bruno Garcia) entre os quais a analfabeta Ethelvina (Maria Salvadora), vital para parte da trama.
Pregando que Jesus pode vir a ser enxergado em todas e quaisquer pessoas, o filme trata da pequenez da vingança, de autoridade moral, investindo ainda em temas como humildade e escárnio. Boas intenções confrontadas com desgostos desembocam em conflitos internos válidos para a vida de Divaldo, autor de livros que já bateram a casa dos 10 milhões em vendas. Excetuada uma cena risível, com um coro pronunciado contra um impulso suicida, a obra, com simplicidade, prende. Muito mais vívido do que o longa Kardec, Divaldo seguramente vai encontrar seu público, independente de algumas apelações emocionais das quais lança mão. A sensibilidade, ao fim do filme, é aflorada.