Joaquin Phoenix entrega atuação de destaque em 'Coringa'
Filme aborda de forma violenta e atormentada como o palhaço Arthur Fleck se tornou um vilão frio e psicopata
Tenso, violento, perturbador. Essas são boas palavras para definir Coringa, o primeiro filme solo do vilão apresentado há quase 80 anos ao grande público nas histórias em quadrinhos do Batman. Depois da versão do personagem feita por Heath Ledger na saga de Christopher Nolan, talvez fosse impossível imaginar uma atuação ainda mais sombria e atormentada do arqui-inimigo do Homem-Morcego. Não para os roteiristas Todd Phillips (que também é o diretor da produção) e Scott Silver.
Premiado no Festival de Veneza com o Leão de Ouro, o longa-metragem aborda a trajetória atormentada de um palhaço que trabalhava nas ruas e em hospitais até se tornar em um assassino frio e calculista. Para mostrar a origem de Coringa e, consequentemente, da crueldade do personagem, a produção apresenta Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um homem de meia idade cheio de problemas, entre eles, o transtorno neurológico chamado afeto pseudobulbar, que o faz rir de forma descontrolada quando está triste, ansioso ou sob pressão. Isso faz com que ele seja visto como estranho no contexto social e é o pontapé para o primeiro crime do vilão.
É de forma humanizada que Coringa apresenta Arthur. Logo no início do filme, o espectador é levado por um sentimento de empatia. No entanto, conforme a fita vai rodando nas duas horas de duração, o sentimento muda. Aquele entendimento de que a maldade de Arthur Fleck é um produto do meio — tanto do sistema falido de Gotham dos anos 1980, ambientada em uma cidade caótica infestada por ratos e com alto número de desemprego, quanto das pessoas —, começa a virar para a percepção de que se trata apenas de uma violência fria e, até em algumas horas, calculista.
Porém, é nesse ambiente violento que a abordagem do filme peca. Em alguns momentos, o longa cria um ambiente de “vigilante vingador” para o protagonista justificado pelas doenças mentais, pelo sofrimento pessoais e pelo próprio ambiente de Gotham. Tem horas que o filme quase o torna símbolo da luta social na cidade, caminho preocupante em tempos de tanta intolerância e fragilidade mental.
Apesar disso, Coringa é um filme com muitas qualidades no produto em si. Visualmente, a produção lembra alguns clássicos do cinema, sendo comparado a Taxi driver, de Martin Scorsese, o que o coloca fora do gênero de filmes de super-heróis. A atuação de Joaquin Phoenix é tão visceral, que o ator toma o filme para si. Destaque para as diferentes risadas que revelam distintos sentimentos do personagem e a entrega física do astro: ele perdeu 24 quilos para interpretar o vilão.
Outro recurso interessante da obra é levar a confusão mental do Coringa para as cenas, fazendo o espectador se questionar se o que passou na tela realmente aconteceu daquele jeito ou se foi imaginado pelo vilão. Mais um ponto interessante é que o filme até busca se desvincular das histórias clássicas do Batman, mas não o faz por completo. Está lá a família Wayne, que, aqui, tem um papel de antagonista ao personagem.