Esqueça qualquer dose de trama de superação, qualquer pitada de anuência a endossar piedade: o documentário feito em primeira pessoa de Daniel Gonçalves, que, aos 35 anos, convive com deficiência física até hoje nunca diagnosticada, traz a honestidade como marca. É como o próprio cineasta sublinha: não é a deficiência que o define. O diretor é, na verdade, um cara de atitude. 

 

 

Numa perspectiva que abraça várias fases da vida do protagonista, impressiona a onipresença da câmera e dos meios audiovisuais no dia a dia dele, sempre protegido e estimulado por família participativa, em comovente (e natural) registro. Desde um esforço no vestir de uma camiseta até a convivência com entraves, a figura batalhadora e simpática de Daniel domina cada quadro do documentário. 

Há espaço para humor (quando Daniel se vê agitado, em meio à festa rave), para confissões (nas cenas em que o diretor/personagem explica dos maus bocados em relacionamentos amorosos) e até mesmo reflexão, à medida que ele assume suplantar de empecilhos, dada condição socioeconômica da família. É sob o olhar de cada espectador que o realizador se afirma como cidadão digno e intrigante, quando abraça desafios como o da escalada (que serve à luva para maior desenvolvimento da capacidade motora). Sabiamente, Daniel não embute discursos que redundem seu cotidiano, sua grandeza como ser humano e suas saborosas conquistas.

 

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