Crítica: Longa 'A fera na selva' é inspirado em clássico literário
A produção brasileira marca reencontro de casal e reencontro com a natureza
Ricardo Daehn
Publicação:25/10/2019 06:05Atualização: 24/10/2019 19:04
Paulo Betti e Eliane Giardini: astros e criadores do longa A fera na selva
Autor de literatura que, adaptada para o cinema, com regularidade, expõe situações dramáticas impulsionadas pela morte — vide longas como Os papéis de Aspern, Os inocentes, Tarde demais e O quarto verde —, o americano Henry James serviu de inspiração para um longa conduzido a seis mãos por Paulo Betti, Eliane Giardini e Lauro Escorel, A fera na selva.
Num roteiro bastante apegado à toada teatral, mas movimentado por cenário e enquadramentos inspiradores, prevalece o valor da intimidade entre João (Betti) e Maria (Giardini). Com larga história de vida fora das telas, os atores conseguem ultrapassar uma situação pouco cinematográfica: cinema é luz e ação, mas o filme deposita muitas fichas no que seja sombrio: na não realização, naquilo que não foi, que não se completou.
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Não é um filme de fácil assimilação, mas a proposta é muito clara — transparente, num contraponto ao impulso que, inicialmente, reúne os dois protagonistas, uma dupla de professores. É por meio de uma lembrança de encontro nebuloso que se aproximam. Amantes da literatura e da língua portuguesa, curiosamente, ambos não conseguem ser mais diretos na relação complexa que estabelecem. A inaptidão social e a obsessiva ideia (compartilhada pelo casal) de que João tem um desígnio insondável, mas líquido e certo, seria capaz de sustentar um amor? Fica a dúvida, uma vez que, até mesmo para servir a um roteiro, o propósito se apresenta como bastante irregular.