Ilustrações em destaque no filme 'A cidade dos piratas'
Otto Guerra e a ilustradora Laerte Coutinho são as estrelas da produção
Ricardo Daehn
Publicação:01/11/2019 06:01Atualização: 31/10/2019 17:31
Laerte é artista que impulsiona toda a nova obra de Otto Guerra
Não é apenas na direção de arte e na participação no roteiro do mais recente trabalho de Otto Guerra que a cartunista e ilustradora Laerte Coutinho dá as caras. Verdadeira razão de ser de A cidade dos piratas, Laerte — protagonista de uma eterna vontade de metamorfose —, tendo assumido o hábito do crossdressing e o estreitamento da vivência transgênera, ainda deu combustível extra para o filme: simplesmente renegou uma criação do passado, os Piratas do Tietê, a princípio, o norte central para a obra de Guerra.
Brota daí, a tonalidade de incertezas de uma produção de cinema; vertente que passa a ser explorada pela fita. A fragmentação e uma linguagem pouco linear já fazia parte do diretor de outra animação recente chamada Até que a Sbórnia nos separe (2014). Ousado, Guerra já tinha sido na dedicação ao longa Rocky e Hudson: os caubóis gays (1994). Agora, numa massaroca visual, ele readéqua um projeto quase desfigurado.
Confira as sessões disponíveis.
Confira as sessões disponíveis.
Não deixa de lado a celebração do talento, junto com a densa crítica política, sempre denotada por Laerte. Tratando de decisões decorrentes da atual quebra de amarras de Laerte, o roteiro investe, abstratamente, em temas atuais como o policiamento, a expectativa de padronização (em campos sexuais e de castração) e uma politicagem torpe, à frente de reflexos sociais nefastos. Mas é muito justo com o espectador alertar de que se trata de uma obra sem começo, meio e fim. Tudo se faz presente e agora, longe de ordenamentos ou medidas harmônicas. Bem bagunçado, meio desconjuntado; mas é uma bagunça efervescente e provocativa.