Confira crítica da animação 'A família Addams'
Uma das franquias mais queridas do cinema mundial retorna em formato de animação
Ainda estão por chegar às telas algumas das adaptações de Matt Lieberman, o roteirista de A família Addams, que, para o ano de 2020, promete ajustes na trama de Scooby-Doo entre outros. Por enquanto, há quem possa lembrar dele com o quarto exemplar da franquia centrada em Dr. Dolittle, o célebre personagem que tem a capacidade de falar com os animais. Talvez, futuramente, Lieberman possa tirar maior vantagem do teor de originalidade, já que, com A família Addams, animação dirigida por Greg Tiernan e Conrad Vernon (ambos vindos do polêmico A festa da salsicha), ele conta com a rede de segurança do carisma advindo de uma galeria de personagens enraizada em infinita legião de admiradores da obra do cartunista Charles Addams (morto em 1988).
Elemento consagrado nas adaptações para a tevê e para o cinema, a inconfundível música de Vic Mizzy tem momento de glória no novo filme em que tudo o que seja fora do padrão vem a ser debatido. Isso, a começar pela contestação e pelo incômodo representado, em flashback, pela união do patriarca Gomez e da esposa dele Mortícia. Buscar a inserção na sociedade, nunca foi, nem passa a ser, prioridade entre os Addams. Enquanto almejam a infelicidade, eles até segredam (aos espectadores) os “erros” cometidos na juventude, entre os quais o revelado por Gomez, que admite derrapadas como a de ter experimentado algodão-doce.
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Na bandeira das esquisitices, o personagem Tropeço (o expressivo mordomo da família), de modo insuspeito, louva a leitura de Mulherzinhas (da feminista Louisa May Alcott) e entona, com risível falsete Everybody hurts (do R.E.M.). Não há como os moradores da mansão Addams deixarem de destoar do resto da comunidade em que uma legião de crianças canta, numa praça, que “a vida é realmente perfeita — é muito fácil ser feliz, quando você não tem escolhas”.
Acuados, os Addams cultivam suas tradições, dando valor a raras cerimônias como a que celebra o sabre mazurka, uma provação para o ainda imaturo personagem Feioso, o filho de Mortícia e de Gomez. A afirmação da identidade vem a ser um dos temas do filme. Wandinha, a debochada irmã de Feioso, pela vez, terá uma oportunidade de se familiarizar com pessoas mais normais do que os parentes, quando passa a frequentar a escola. No processo de criar mais empatia com os colegas de classe, Wandinha responde por hilários momentos da fita. Constantemente vestindo preto, ela ouve da mãe que “Todo mundo sabe que rosa é uma cor perigosa”, quando investe numa mudança radical de guarda-roupa.
Grosso modo, com tiradas muito divertidas — numa das melhores, o Tio Chico (convidado para o sabre mazurka do sobrinho) protagoniza, em praça pública, um incompreendido número de vaudeville — A família Addams trata do risco da uniformidade. No desafio à manutenção do sistema defendido por uma agente do ramo imobiliário chamada Margô (dona de topete à la Donald Trump), chocada pela presença dos Addams na vizinhança, os integrantes da família Addams enfrentarão de bullying à discriminação. Mas, contarão, igualmente, com doses de empatia e amor, fluentes em personagens como o da carinhosa vovó Addams.