Busca por ascensão social move família em 'Parasita'
Pais e filhos desenvolvem um plano para se infiltrar em uma família burguesa e desfrutar da riqueza alheia
Ricardo Daehn
Publicação:08/11/2019 06:01Atualização: 07/11/2019 19:36
Uma facção de Parasita chafurda a fim de obter sinal de internet
É quase aritmética a votação de Parasita, com escolha unânime, para a Palma de Ouro no Festival de Cannes. O filme que estreia nesta sexta-feira (8/11), com a sempre violenta assinatura de Bong Joon Ho (O hospedeiro), vem a reboque de dois (premiados, em anos anteriores) ácidos exemplares que compreendem embates entre classes. Em 2017, venceu o sueco The square: A arte da discórdia e, em 2018, o japonês Assunto de família. Temas de ambos são refletidos em Parasita, vencedor de 2019.
Com fotografia e direção de arte estupendas (que dá extremo realismo para ambientes de abonados contra o clima teatral no exame da realidade dos pobres), Parasita apela para a radicalidade no choque entre abonados e desfavorecidos. A arte conceitual (tema de The square) está englobada em Parasita, por meio da exploração da arquitetura que transborda conforto para a família (quase imperial) do ausente empresário Sr. Park. Já, amontoados (a exemplo dos protagonistas de Assunto de família), os integrantes do núcleo Kim opera no limite da miséria; com todos desempregados.
Confira as sessões do filme.
Confira as sessões do filme.
Tal como cobras, os Kim partem para a ofensiva, se aninhando no terreno do suposto inimigo. Até na quantidade e na formação, as famílias parecem antípodas (como visto no assustador Nós, filme de Jordan Peele). Favorecendo a violência gráfica e um mundo afeito à encenação (com poder desmedido para a internet, na trama), o diretor coloca detestáveis discursos na boca do senhor Park. Ele vê seu castelo de riquezas como impermeável ("empregados não cruzaram linhas" e têm odores diferenciados). Em suma, ele é uma figura detestável. No andamento, as situações que o rodeiam irradiam humor, aventura, muitas reviravoltas e crítica social.
A falta de oportunidades contrasta com a opulência, em Parasita. O endeusamento de uma criança, por exemplo, é perturbador, quando se decifra o miolo da família do Sr. Park. Um radicalismo chocante está no clã dos Kim: eles absorvem o discurso de ódio de Coringa (atualmente em cartaz) e o potencializa às últimas raias, efetivado. E lá vem o diretor sul-coreano Joon Ho provocar: associa gentileza ao excesso de dinheiro, enquanto situações de crimes e de impunidade se veem jogadas para baixo do tapete. No polarizado universo, caberia ao espectador torcer por um lado?