Conheça algumas alternativas da culinária vegana
Cresce a oferta de pratos e quitutes desse estilo em Brasília
Mais do que uma dieta sem carne ou produtos de origem animal, o veganismo (ou vegetarianismo estrito) é um termo ligado a estilo de vida.
Os adeptos dessa filosofia acreditam que a vida de todos os animais têm o mesmo valor, independentemente da função na cadeia alimentar. Por isso, seguem uma dieta que dispensa carnes, peixes, laticínios, ovos e mel do cardápio.
O Divirta-se Mais comprova que essa restrição nem sempre implica receitas de menor valor gastronômico. Dada a quantidade de frutas, verduras, grãos e castanhas, o veganismo é abastado no quesito possibilidades culinárias — sem citar os diversos benefícios à saúde. Ainda que sua praia seja outra, vale a pena experimentar a dieta vegana ao menos uma vez por semana, como propõe o movimento mundial Segunda sem carne.
Há um algum tempo, o veganismo deixou de ser desconhecido dos comensais brasilienses. Cresce o número de casas dedicadas totalmente a esse público na capital, como os restaurantes Vegan-se e Supren Verda. Apesar do aumento de adeptos de dietas vegetarianas no Distrito Federal e em todo o país (cerca de 15,2 milhões, segundo os dados mais recentes do IBGE), os veganos ainda não são maioria e sofrem quando o assunto é diversidade.
Por isso, comemoram quando restaurantes locais inserem alimentos que se adaptam a esse perfil de consumidores nos menus. Caso do Pizza à Bessa e do Sushi San, que criaram cardápios livres de qualquer produto que gere exploração ou sofrimento animal.
Dieta saudável, saborosa e ética, com preocupação com a sustentabilidade do planeta, o veganismo entra de vez na rota gourmet dos glutões de Brasília. “A dieta vegetariana pode levar à redução dos níveis séricos de colesterol, redução do risco e prevalência de doença cardiovascular em até 30%, hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e de diversos tipos de câncer”, afirma a nutricionista Aline Camargo.
“Comida vegana não é só alface, tomate, arroz e feijão. Quem acredita nisso está enganado”, garante Osvaldo Conté, gerente-geral do Supren Verda. Surpreenda-se, a seguir, com as possibilidades culinárias que essa filosofia alimentar oferece.
Café germinado
No germinar, o cardápio foi modelado para dar opções diferentes aos veganos. Entre as opções que a casa oferece, estão vitaminas, sucos, tapiocas e refeições que podem ser levadas congeladas para casa. Segundo a proprietária, Tatiana Pedersoli, outro cuidado que faz parte da rotina na casa é adotar alimentos orgânicos. “Tomate, pepino e pimentão são alguns dos produtos que compro apenas orgânicos”, exemplifica.
Já no café da manhã, não faltam alternativas, como a empada com massa de grão-de-bico e farinha de jatobá recheada de jaca verde (R$ 5). Para beber, a sugestão são os sucos vivos, como o suco verde (R$ 8), que recebe uma nova fórmula a cada dia.“Tentamos usar o alimento vivo. Quando faço com grãos, por exemplo, os deixo germinarem. Isso facilita a digestão”, explica.
Outras opções são o quibe de abóbora recheado com queijo de castanha-de-caju (R$ 5), único item no cardápio que contem glúten, e a tapioca recheada com girassol germinado, manga e salsa (R$ 7).
A casa serve também almoço, que pode ser comido no local, levado congelado ou pedidos para entrega. O prato muda todos os dias e sai por R$ 23. “Como as pessoas vêm vários dias seguidos, vou criando novos pratos e revezando preparos para não enjoar”, comenta a proprietária.
Rodízio pioneiro
Uma das pizzarias pioneiras da cidade é a Pizza à Bessa. Há 15 anos em Brasília, o forte da casa são os rodízios (R$ 35,80), que apresentam cerca de 60 sabores aos comensais. Mas Paulo Bessa, proprietário da casa, afirma que viu entre seus clientes a necessidade de criar opções para o público vegano. “Aumentou muito a procura por pizzas desse tipo. Então, resolvemos apostar em um rodízio delas, o primeiro da cidade”, afirma.
São cerca de 20 sabores especiais das redondas, servidos somente às quintas-feiras. “Toda semana faço algo diferente, há alguns dias, criei uma de purê de inhame com abacaxi e mandioca, por exemplo”, cita o proprietário. Quanto às pizzas, durante a semana, nem todos os sabores ficam disponíveis. Na massa, Paulo usa açúcar, sal, farinha, água, fermento e azeite.
O carro-chefe é a pizza de shitake e palmito (R$ 58), além de outras alternativas, como a ratatouille (R$ 56), a pizza de milho (R$ 50) e a clássica marguerita (R$ 49). “Usamos um queijo feito de batata, próprio para quem não consome derivados de animais. Além disso, deixamos nosso salão superior, onde cabem 150 pessoas, apenas para o rodízio diferenciado”, diz o proprietário.
Tradição saudável
A culinária árabe tem, tradicionalmente, pratos leves e saudáveis. Não é à toa que ela atrai tantas pessoas com restrições alimentares. No Beit Kahama, casa localizada na Quituart, há opções de sobra para os veganos aproveitarem. “Recebemos muitas pessoas com esse perfil. Algumas nem se identificam como tal, devido à facilidade do próprio cardápio em oferecer os preparos”, comenta Lucilene Gomes da Silva, proprietária do local.
Na hora de sugerir preparos sem derivados de animais, é difícil não falar do saboroso bolinho com massa de grão-de-bico, o falafel (R$ 25), servido com seis unidades e acompanhado por molho e pão. “Normalmente, o molho que acompanha é o de iogurte, mas para quem tem restrições, podemos trocá-lo para um molho de homus, por exemplo”, garante Lucilene.
A pasta feita de grão-de-bico e tahine — o homus (R$ 20) — é também um sucesso entre os que frequentam a casa. “Além de não levar derivados de animal, é uma pasta muito saudável e saborosa”, recomenda Lucilene. Para completar o prato, o tabule (R$ 25), salada árabe à base de pepino, tomate e trigo. “Para mim, essa combinação é uma refeição completa, pois tem carboidrato, proteína e fibra”, ressalta.
Monte você mesmo
Em restaurantes com inclinação para a comida natural, encontrar ou adaptar uma receita vegana torna-se mais fácil. É nessa proposta que se encaixa o Maori, especializado em gastronomia alternativa. O cardápio tradicional à la carte não tem quitutes sem produtos de origem animal, pois conta com laticínios e derivados, mas, ao optar pela comanda, o comensal pode montar a própria salada (R$ 16, a pequena), sanduíche (R$ 16) ou tapioca (R$ 11).
São 17 itens à escolha do freguês, entre os quais se encontram folhagens e verduras. A chef Jaci Nassar fez a própria combinação: a salada com mix de alface, champignon, milho, tomate fresco e pepino; e a tapioca com cenoura, abacaxi e palmito. Jaci ensina o pulo do gato para dar um sabor extra aos preparos: “Servimos ao molho de azeite temperado com pimenta-do-reino, alecrim e alho”.
Outro ponto importante a salientar no cardápio do Maori são os sucos para vitalidade e saúde (R$ 8,80, cada). Experimente o fortificante, com laranja, kiwi, cenoura e manjericão, ou o que limpa o fígado e revigora o organismo, feito à base de limão, maçã, uva e damasco.
NA TV
Nem só de melancia grelhada, receita polêmica da chef Bela Gil, vivem os veganos interessados em aprender receitas em programas gastronômicos. Na semana passada, o canal GNT estreou o programa Comida.org, comandado pela chef Tati Lund. A atração pode ser assistida pelo recurso on demand ou no site da emissora.
Receitas de família
A Pão de Melado — Delícias veganas é uma das empresas brasilienses que nasceram com vocação genuína: atender amigos e pessoas próximas aos criadores da marca, Leandro Chaves e a esposa, Ane Conte. “Toda a minha família é vegana e, quando minha filha completou um ano, precisei encomendar salgados e doces para a festinha. Como não encontrei, decidi eu mesmo fabricá-los”, relembra.
Adepto da dieta vegana, Chaves precisou flexibilizar a ideia por interesse do público, ávido pelo temperado caprichado do chef. O objetivo inicial acabou se expandindo e, hoje, Leandro fabrica mais de 500 quitutes por mês, vendidos sob encomenda ou em eventos e feiras para veganos.
Coxinha recheada com carne de jaca verde temperada com curry (R$ 4), falafel (R$ 4), esfirra integral recheada de cogumelos funghi fatiados (RS 5), churros de doce de castanha-de-caju (R$ 6) e pão de melado (versão de pão de mel com melado de cana, a R$ 4) são alguns dos salgados e doces que saem da cozinha, ainda caseira, situada no seu apartamento, na Asa Norte.
Para o Natal, Leandro criou uma versão vegana de panetone com frutas cristalizadas e passas, por R$ 27 (600g), e chocotone com gotas de chocolate meio amargo sem leite, pelo mesmo valor. “Além dos quitutes, faço muitos eventos de conscientização com o coletivo Frente de ação pela libertação animal”, comenta.
De tudo um pouco
O público vegano pode se fazer na Vegan-se, loja em que todos os itens são voltados para eles. No local, são vendidas matérias-primas como leite de amêndoas (R$ 9 — 290 ml), ricota de macadâmia (R$ 10,90) e queijo de macadâmia (R$ 12). O Vegan-se trabalha também com preparos congelados, como é o caso do pão de queijo sem queijo (R$ 26 — 510g), ou de salgadinhos de festa, como o rissole de milho (R$ 60 — o cento).
Já no almoço, o forte são as marmitas para levar. “Temos um espaço para quem deseja comer aqui, mas as pessoas costumam pedir os pratos para viagem”, informa a proprietária, Cynara Arnt. Entre as opções, estão o churrasquinho, feito com legumes, tofu e proteína de soja. Já entre os acompanhamentos, a maionese de tofu chama a atenção.
Outra pedida é a moqueca com tomates, palmito em rodelas, algas, cebola e gergelim. “Tomamos cuidado para que os pratos servidos sejam saudáveis, com o mínimo possível de alimentos industrializados”, afirma.
Para sobremesa, as opções também fazem a festa dos comensais. Uma das apostas é o muffin de banana (R$ 5), que leva farinha de arroz, leite de coco, castanha do Brasil, de caju, nozes, uvas-passas, canela e banana. As tortas vivas também são uma ótima pedida, podendo ser de morango, de castanha-de-caju e caju, ou de desejo negro, de cacau com avelã, cada uma por R$ 8.
Conquistando paladares
Vegetariano há mais de 40 anos, Osvaldo Condé se surpreendeu ao assumir a função de gerente-geral do restaurante Supren Verda, há cerca de 15 dias. “Notei que cerca de 40% do público é vegano. Os demais são curiosos, pessoas que vêm experimentar e conhecer os pratos veganos”, comenta, constatando que os quitutes sem ingredientes de origem animal têm conquistado novos paladares.
A esses comensais recém-chegados ele sugere o cuscuz de farinha de milho com palmito, azeitona, e tomate (R$ 8,50), entrada ou prato principal, a depender do apetite. O prato integra o menu à la carte do restaurante, que, daqui a uma semana, terá também um bufê de self-service no quilo.
No Supren Verda, os preceitos veganos são levados ao pé da letra. Todos os insumos são orgânicos, sem glúten e, na hora de cozinhar, os cozinheiros abusam de sal marinho, óleo de coco e água mineral filtrada. “Existe muita discussão sobre o excesso de conservantes nos alimentos e até na água. A nossa é pura, sem flúor. Evitamos ao máximo a ingestão de produtos químicos”, explica Osvaldo. A regra vale para as bebidas, orgânicas, a exemplo do suco de laranja (R$ 6 – 300ml) e até o cafezinho (R$ 4), que encerra a refeição.
Ajudinha virtual
Em outubro, chegou ao mercado o aplicativo be veg, que ajuda a localizar lugares veganos e vegetarianos com apenas um clique. O app é gratuito e pode ser baixado no Google Play e na Apple Store. Cada restaurante vem acompanhado de informações sobre o local, como distância, horário de funcionamento e mapa. Outra ajuda virtual aos veganos é o e-commerce Carota, que comercializa orgânicos, entregando uma feira completa com 10 (R$ 85), 15 (R$ 105) ou 20
(R$ 125) itens na casa do cliente.
Japonês – mas sem peixe
Por tradição popular, certos ingredientes parecem inseparáveis e feitos um para o outro na cozinha. A máxima vale para arroz e feijão, queijo e goiaba, rabada e agrião, sushi e peixe. No último caso, coube ao Sushi San a difícil missão de dissociar a alimentação japonesa de salmão e derivados.
Há cerca de dois meses, o restaurante lançou um extenso cardápio vegano que vai além do califórnia roll — sushi criado nos EUA em que o arroz japonês vem acompanhado de frutas e vegetais. São 24 opções pautadas pela culinária de fusão, quando elementos da cozinha oriental se juntam a novas referências gastronômicas locais.
O comensal escolhe entre porções individuais, como o sushi broto, com joy de cenoura, arroz, guacamole, broto de alfafa e castanha de baru (R$ 12 — 8 peças), ou os combinados. O de 30 peças sai por R$ 32 e é composto por 30% de sashimis (finas lâminas de kiwi, abacate, manga, melão e tofu temperado no shoyu) e 70% de sushis, criações da proprietária, Danielly Britto. Aparecem sabores inusitados, como o de quinoa com crocante do grão e legumes picados; o niguiri de flores de brócolis e nori (alga japonesa); e o da horta, um roll de folha de arroz recheado com rúcula, pepino e manga.
Chocolate sim!
A veterinária Jamille Avelino e Marcel Dornelas foram pioneiros na aposta de uma confeitaria voltada especialmente para pessoas com restrições alimentares. Chegando ao fim do curso de veterinária, a jovem se incomodou com os maus-tratos aos animais e começou a, por conta própria, apostar em receitas veganas. Dessa maneira despretensiosa surgiu o Cannelle.
O espaço é de encher os olhos, com doces saborosos e ideais para intolerantes, alérgicos ou veganos. “Não servimos apenas um produto vegano. Nossa meta é trazer um produto diferenciado e com sabor. Fazemos um serviço personalizado para esse público.”
Entre a extensa lista de doces, a sugestão é o bolo de chocolate classic (R$ 11,90). “Esse bolo é muito bonito, quem vem na loja e o vê no mostruário acaba pedindo. Isso quando não veem a foto na parede e falam dele”, relembra Dornelas. Outras alternativas são o cheesecake (R$ 17,90) ou o cannelle premium (R$ 4,90), tipo de cupcake de chocolate. Já para beber, a sugestão da dupla é o capuccino (R$ 10,80), feito com chocolate vegano e leite de amêndoas.