Restaurantes e bares temáticos ganham cada vez mais espaço em Brasília
Entre motocicletas e jogos de tabuleiro, diversos espaços temáticos se destacam no segmento gastronômico na capital
É crescente o número de casas que buscam sair do tradicional do lugar-comum e experimentar um espaço temático, que agrega bons drinques e saborosos petiscos a um ambiente diferente, ligado a um estilo de vida, a um hobby ou a uma referência artística.
Para quem curte decoração vintage, o restaurante Marvin é uma opção; para a turma geek, por exemplo, os espaços para jogos de tabuleiros como o Carcassonne são a escolha certa. Esses e muitos outros universos estão espalhados pela cidade, e não é apenas a decoração que encanta. Os pratos são de dar água na boca!
Para quem gosta de motos motos, há casas que, além do tema, investem em preparos elaborados e diferenciados, como o Riders Café, que conta com o chef Rodrigo Cabral. “O estereótipo que se tem de um motociclista é muito parecido, de um modo geral. Principalmente os de motos customizadas. Imagina-se aquele cara tatuado, ogro, de colete de couro, botas e correntes no bolso. Quando se olha isso, tende-se a pensar na comida trash, mas, hoje em dia, não dá para se alimentar sem buscar a saúde dos comensais”, explica.
O Motobar RD-50 segue o mesmo estilo e inclui a costela Jack no cardápio, hambúrguer de costela com molho de uísque e barbecue mais pasta de gorgonzola, tomate, cebola roxa e alface, acompanhado por fritas.
Para os amantes de vinis, o Victrola tem, além de petiscos diferenciados (como o canapé de hambúrguer de picanha, bacon, molho barbecue e ovo de codorna frito), uma coleção considerável de LPs. “As pessoas se reúnem muito no fim de ano. Aqui recebemos especialmente grupos de amigos e confraternizações de trabalho”, comenta Cristian Oliveira, proprietário da casa.
Os jogos de tabuleiro também fazem sucesso nas reuniões. “Recebemos tanta demanda de empresas que chegamos a fechar pacotes”, relembra o proprietário do Carcassonne, Fábio Almeida.
Um chope e um tabuleiro
No Carcassonne, a mistura foi simples: unir a proposta de um pub com os dinâmicos jogos de tabuleiro. E é um sucesso. Os clientes se revezam entre os petiscos e as peças.
“Temos cerca de 200 opções de jogos, nossos atendentes são orientados e dar as instruções para quem frequenta a casa, além de sugerir opções adequadas de entretenimento ao gosto de cada grupo”, afirma Fábio Almeida, proprietário da casa. A ideia surgiu após ele e a esposa, Salimar Morais, viajarem para a Europa e visitarem casas que ofereciam a atração.
Entre os petiscos, as opções são muito bem elaboradas. A sugestão é o dominó (R$ 47, com 12 unidades, ou R$ 29, com seis), espécie de bruschetta feita com massa de nhoque à romana no lugar do pão, coberta por salame italiano, muçarela de búfala, tomate grape seco, azeitona e manjericão. “É um petisco leve e as peças são servidas como um dominó”, comenta o proprietário.
Os pratos atendem também a clientes com restrições alimentares. “Temos muito cuidado para receber essas pessoas. Por exemplo, com sobremesas diets”, comenta. Como petisco, ele sugere o jogo da velha (R$ 25), minicuscuz à paulista servido ao molho de beterraba e mostarda.
Os encontros entre grupos são comuns. “Recebemos muitos eventos de trabalho, chegamos a fazer um pacote para empresas, de acordo com a demanda”, ele relembra. Para Almeida, os jogos servem como uma forma de quebrar o gelo. “Às vezes, o jogo ajuda o grupo a ter um assunto, mesmo entre pessoas conhecidas”, pondera.
Retrô, por favor
No Senhoritas Café, comandado pelo escritor Renato Fino, uma máquina de escrever dá o tom da decoração, que carrega o perfume de décadas passadas. “Gosto de coisas que remetem a outros tempos”, entrega.
Se, por um lado, pôr os pés no Senhoritas carrega o comensal a décadas passadas, dada a quantidade de fotos e objetos de antiquários espalhados pelo ambiente, por outro, tem-se a impressão de que a casa está em constante atualização, atenta aos desejos dos clientes.
Bom exemplo é o novo cardápio, lançado esta semana e batizado de Tropicália: o verão na primavera. O movimento cultural encabeçado por Gilberto Gil e Caetano Veloso serve como referência ao menu tropical e leve, ideal para ser apreciado nos dias quentes do verão que se aproxima.
A menina dos olhos do escritor é Ana Miranda, como é chamada a ciabatta com queijo brie e geleia caseira de damasco ao forno com hortelã (R$ 14). O nome do sanduíche — uma menção à escritora brasileira — condiz com o conceito da casa de reverenciar personagens femininas da literatura.
Dada a composição, a ciabatta fica bem se harmonizada com a caipirosca maré (R$ 12), preparada com manga e pimenta-dedo-de-moça. Sem álcool, boa alternativa é nova carta de sucos, com 37 opções, entre as quais a refrescante combinação de água de coco com uva-verde e hortelã, por R$ 9.
Sanduíches vintage
O Marvin é uma das casas vintages mais antigas da cidade. Como pioneiros, eles inspiram e atraem clientes pela sua proposta. “A primeira loja chamou muita atenção; ao longo do tempo, cada ponto foi fazendo sua decoração, mas a proposta se mantém”, afirma Rafael Costacurta, sócio da casa.
Para comer, a especialidade são os hambúrgueres, como o cheese egg bacon (R$ 33,50). “É um hambúrguer muito bem servido, que leva, além de 140g de carne, ovo e bacon”, ele explica.
“Outra pedida, um pouco mais light, é o portenho (R$ 30,40). Nesse caso, o preparo vai com pão ciabatta, feito na casa, com hambúrguer, rúcula, tomate fresco e molho chimichurri”.
Já para quem procura uma refeição mais convencional, a casa também oferece pratos, como o filé boa refeição (R$ 36,30). São 200g de filé-mignon, acompanhados por arroz com brócolis, salada ou batata frita. “Nesse caso, o prato é bem básico, agrada muito a quem vem aqui”, diz.
Para a sobremesa a aposta são os sorvetes, (a partir de R$ 6), feitos artesanalmente. Ele conta que, na época de fim de ano, é comum, especialmente a partir de dezembro, receber grupos que variam normalmente entre 10 e 30 pessoas.
Como na NY de 1950
Sucesso nos bares mais badalados do mundo entre as décadas de 1920 e 1980, as jukeboxes voltaram à moda nos anos 2000 com a tendência encabeçada por um público mais jovem: o retorno de objetos com pegada vintage e retrô. Junto do equipamento, ressurgiram também máquinas de escrever, toca-discos de vinil e outros itens que, até então, pareciam com o fim decretado e relegado à vida em museus.
Michelle Calmon, proprietária do Nolita Coffee & Fun, é uma das entusiastas por esse tipo de proposta decorativa. Quando abriu o café e restaurante, em meados de 2014, carregou alguns objetos que tinha em casa para fazerem parte da ambientação, construída em parceria com a arquiteta Fernanda Graneiro. A jukebox, que ainda funciona, foi um deles. “Foi uma inspiração que tive em bares e restaurantes de Nova York, cidade com a qual tenho muita afinidade”, comenta a empresária.
O cardápio da casa, antes voltado a itens americanos, como waffles e panquecas, agora se abre para um perfil que se encaixa mais na categoria cozinha universal. Destaque para o spaguetti and meeatball (R$ 41), o clássico italiano de espaguete com almôndegas; e o sanduíche de pastrami (R$ 29,50), recheado com a carne bovina curada e defumada que, no Nolita, é escoltado por fritas.
O Nolita Coffee & Fun está em reforma até o dia 10/12.
Com boa música
São cerca de 3 mil LPs, todos à disposição do cliente, que pode não só admirá-los, mas também pedir a música que desejar. “Só tocamos vinil, e o cliente pode escolher a música, sempre tocamos o que é pedido”, comenta o proprietário do Victrola, Cristian Oliveira.
A proposta, segundo ele, atrai um público que se relaciona com música, além de dar um clima um pouco vintage para o espaço. “Fica uma sensação de flashback anos 1980 e 1990”, complementa.
Para comer, o que não faltam são opções bem elaboradas e saborosas, como o salmão com crosta de gergelim e wasabi (R$ 38). “Esse prato tem um sabor característico, um pouco picante, devido ao wasabi”, comenta Oliveira.
Bolachões em alta
Numa época em que serviços de streaming crescem exponencialmente e a música digital parece ditar as regras do mercado fonográfico, os discos de vinil vêm em corrente contrária e propõem uma interação com o ouvinte à moda antiga.
Enquanto alguns preferem utilizá-los como trilha sonora, outros se aproveitam do formato cativante como item decorativo. Tal como o Music Crepe, em Águas Claras, que substitui os tradicionais sousplât pelos discos. A música também dá o tom do cardápio, com nomes em homenagem a grandes estrelas.
Um exemplo é a brasiliense Cássia Eller, que designa o crepe dos queijos muçarela, catupiry, parmesão, provolone e gorgonzola (R$ 17,90, o grande, e R$ 15,90, o pequeno).
Rock’n’roll, motos e cinema
“O cenário underground em Brasília deixa a desejar”. Essa é a opinião do proprietário do Fim da Linha, Rogério Avelino, sobre bares e restaurantes com a temática. “Misturamos rock’n’roll, cinema e motos, além de muita cerveja”, comenta.
De fato, as cervejas são um dos fortes da casa. São mais de 60 rótulos, que variam de acordo com a demanda e a disponibilidade. Para inovar, o proprietário colocou uma geladeira vintage azul-clara. Nela os clientes podem consultar as cervejas disponíveis e se servir. “Isso deixa um clima descontraído, caseiro, é muito legal”, gaba-se.
Para comer, as sugestões são muitas, entre elas destaca-se o contrafilé flambado no conhaque, servido com molho de mostarda (R$ 30). “É um prato com 500g de carne por porção. Já o sabor é levemente picante, devido à mostarda”, afirma Avelino.
A carne de sol coberta com queijo muçarela (R$ 33), é mais uma das opções no cardápio. “Usamos o coxão duro, corte tradicional de fazer carne de sol, e cobrimos com queijo”, explica o proprietário.
Outra pedida que a casa oferece são as linguiças artesanais (R$ 25). Trazidos de Formiga — cidade mineira —, os preparos não só têm uma qualidade superior por serem artesanais, mas também vêm com diversos recheios, como, no caso da linguiça suína, alho, azeitona, provolone, mandioca, tomate e bacon; a de frango pode vir com milho e provolone.
Chef e motociclista
Em julho do ano passado, muitos comensais se surpreenderam com o fechamento do restaurante contemporâneo Ares do Brasil, capitaneado por Rodrigo Cabral.
Não demorou até que o chef, apegado a receitas regionalistas com leitura moderna, voltasse às caçarolas com um novo projeto: o comando do Riders Café, ponto que, anexo à concessionária Harley-Davidson, atrai amantes do motociclismo.
O maior desafio de Rodrigo foi comprovar que um café vai além do pão de queijo com espresso, e que os interessados pelos veículos de duas rodas sabem apreciar uma boa receita, não se limitando a junk food.
Coube a ele a elaboração de um cardápio que casasse o conceito american diner com a comida saudável.
O snack blaus (R$ 32) é uma porção de minissanduíche de costela suína defumada e desfiada servida na baguete. É acrescido o molho Riders (à base de tamarindo) e abacaxi grelhado.
“Eu mesmo limpo e retiro o excesso de gordura, deixando apenas o necessário para dar sabor”, explica Cabral.
A acidez do abacaxi causa um interessante contraste, se degustada junto ao uísque Jack Daniels com licor de canela (R$ 20 – 50ml), servido quase na textura licorosa. “É uma bebida rara e que, em Brasília, só existe aqui no Riders”, conta o chef.
Serviço completo
Situado em uma rua conhecida por oficinas e encontros de motociclistas no Sudoeste, o Motobar RD-50 mostra a que veio logo no nome, em referência à primeira moto fabricada no Brasil pela Yamaha, e que fez 40 anos em 2014. Das mesas internas, é possível ver o lava a jato disponível aos fãs de cilindradas. Guitarras e um palco para shows de rock, além da imponente mesa de sinuca, completam a ambientação com o pé no rock’n’roll.
Assim como o Riders Café, o cardápio do RD-50, assinado pelo chef Alex Fediczko (ex-A Bela Sintra), surpreende paladares desavisados.
Costela Jack (R$ 32), por exemplo, é o nome do hambúrguer de costela ponta de agulha com molho de uísque e barbecue mais pasta de gorgonzola, tomate, cebola-roxa e alface, acompanhado por fritas. O toque do chef fica por conta da adição de alho assado. “Ele é embalado a vácuo e cozido lentamente em banho-maria com azeite, pimenta, louro, aceto balsâmico e sal por três horas”, explica Fediczko.
No rol de petiscos, Alex faz outras sugestões que fogem do tradicional. O paulista volta às origens apresentando alternativas pouco usuais, como o coração de galinha na cerveja preta (R$ 29).