Restaurantes e cafés vão além da culinária para atrair clientes regulares
Música, arte plástica, literatura e... Gastronomia. Cresce o número de casas da cidade que apostam na dobradinha diversão e pratos de qualidade
Rebeca Oliveira
Renata Rios
Publicação:01/01/2016 06:50Atualização: 31/12/2015 10:28
Há mais de 10 anos no comando do Café Savana, Marcelo Mello abre espaço para exposições de artistas que tenham ligação com Brasília. Todas as sextas-feiras, das 20h às 22h30, a casa também vira palco para shows de músicos locais, como os irmãos João e Thiago Coimbra. Dono de loja de instrumentos no mesmo bloco do restaurante, Thiago empresta o aparato musical a Marcelo como “uma forma de incentivar a longevidade do projeto”, afirma.
O cardápio de bistrô do Café Savana reflete a personalidade de Marcelo Mello em itens como o filé alto ao molho rôti e queijo brie acompanhado por risoto de funghi mais geleia de frutas vermelhas (R$ 54). Mas as características do proprietário do Café Savana intrínsecas à identidade da casa não param aí. Mello já foi ator e, na família dele, não faltam talentos nas artes plásticas e visuais.
Além dos saborosos preparos do Inácia poulet rôti, o proprietário do local, Luiz Carlos Alcoforado, aposta na arte como uma maneira de valorizar a cultura e atrair novos clientes. Nas paredes da casa, quadros são expostos, decorando o ambiente de maneira elegante. “Esses quadros são do meu acervo pessoal. Investimos muito na cultura, acho que mexe com a espiritualidade das pessoas”, explica o proprietário.
Especializada em mediação de conflitos, a advogada Adriana Beltrame é íntima do universo das letras. Dona de uma editora de livros jurídicos e de um selo literário, decidiu abrir a livraria Le Calmon em meados de 2014. O objetivo era oferecer títulos que extrapolassem o direito, com obras que não se limitassem a best-sellers, visto que esses já ocupavam as vitrines de grandes livrarias.
Para a sorte dos fãs das caçarolas, na curadoria dos títulos que recheiam as prateleiras, a seção dedicada à gastronomia tem grande destaque, principalmente no piso superior, onde funciona o café anexo à livraria. Há pouco, Adriana incorporou pratos com influência italiana no cardápio. Das massas frescas, sobressai-se a lasanha à bolonhesa (R$ 19), que vem à mesa com uma cestinha de pães.
"Quem não gosta de samba, bom sujeito não é". Venceslau Calaf é do tipo de entusiasta cultural que acredita fielmente nos versos eternizados por Dorival Caymmi. No Outro Calaf, o estilo musical predomina em uma vasta agenda musical, com shows aos sábados (grupo Fina Estampa e convidados), aos domingos (dia de curtir o suingue do Santo Pecado) e às terças (com AdoraRoda).
Enquanto o palco ferve, os clientes costumam beliscar petiscos, em vez de pedir pratos da cozinha espanhola pelos quais o Calaf é conhecido durante o almoço. Alguns deles disparam na preferência dos festeiros: bolinho de mandioca recheado com camarão (R$ 8), quibe recheado com carne (R$ 8), batatas-bravas (R$ 25) e carne de sol com mandioca (R$ 40).
Enquanto você aprecia um dos itens do menu da Quitinete é fácil se pegar admirando algum dos trabalhos expostos nas paredes da loja. Atualmente, chama a atenção o trabalho do fotógrafo Marcos Araújo. “Achei interessante as fotos serem impressas em alumínio”, comenta a proprietária, Patrícia Kelen.
Na lista dos mais pedidos estão o cheesecake com calda de goiaba (R$ 9,50) e a torta de brigadeiro (R$ 9, a fatia), preparada como uma espécie de bolo de chocolate com bastante recheio.“Usamos para o brigadeiro um chocolate que não chega a ser amargo, mas não é doce, pois ficaria enjoativo”, explica.
Ponto de encontro de quem curte música ao vivo e azaração há mais de 20 anos, o Calaf é conhecido como uma casa de samba que também abriga outros estilos. O sotaque espanhol do proprietário Venceslau Calaf também aparece na gastronomia servida no local, famosa pela paella e por petiscos portenhos.
Com menos tempo de estrada, mas igualmente engajada no fortalecimento da cena cultural brasiliense, a cada 14 dias (sempre às terças) a livraria e café Le Calmon recebe escritores locais no evento A voz do autor, em que o artista apresenta uma obra literária autoral e bastidores da criação com curadoria da jornalista e escritora Clara Arreguy. Proposta semelhante à de outro projeto — a Noite do poeta, com supervisão de Nicolas Behr.
Para não serem calados pela controversa Lei do Silêncio, uma das responsáveis pelo fechamento do Balaio Café, no mês passado, empresários optam pela regra da boa convivência.
“Tentamos nos adequar e ter bom convívio com a prefeitura da quadra. Para isso, investimos no isolamento acústico e respeitamos os limites sonoros”, explica Fernanda La Rocque, do Carpe Diem, onde, às sextas, o som dos anos 1980 e 1990 se junta ao aroma das panelas.
Vocação para a cultura
O movimento de uma década em prol do fortalecimento da cena brasiliense atraiu outros endereços e, hoje, a 116 Norte abriga a galeria de arte Alfinete, o brechó vintage LlollaLab e o Espaço Alexandre Innecco.
Uma vez por mês Marcelo elege um nome local e abre espaço para que os comensais tenham contato direto com a produção do artista. Agora, é a vez da ceramicista Nádia Bacin. Boa oportunidade de conhecer a trajetória da gaúcha, que tem ligação com a cidade e expõe parte do acervo inspirado em elementos do cerrado.
Enquanto aprecia as formas e curvas exploradas por Bacin, aproveite a generosa taça com 180ml do vinho carménère chileno Ventisquero, por R$ 17.
Poesia por todo canto
Entre uma tela e outra, experimente o ceviche campeão (R$ 59); recentemente premiado pela Embaixada do Peru no Brasil, o preparo leva cubos de peixe branco, polvo, camarão em leche de tigre com toque de aji vermelho, cebola-roxa marinada, batata-doce e milho verde. A sugestão é se deliciar com o prato enquanto lê as poesias escritas nas janelas, espelhos e até na adega.
Também vale a pena o filé de sirigado à moda tacu tacu (R$ 69), receita na qual o peixe é confitado com ervas ao molho escabeche acompanhado pelo tacu tacu, mistura de arroz e feijão típica peruana.
Para pequenos e grandes leitores
Essa opção é evidenciada, ainda, na programação cultural da Le Calmon. É comum encontrar autores da cidade lançando títulos ou promovendo leituras por lá. “Prestigiamos autores locais para que tivessem espaço dentro da cidade, o que não acontece em grandes redes”, conta Beltrame.
Crianças também são bem-vindas no evento Arte com livro. Uma vez por mês, alunos de colégios do Distrito Federal montam a vitrine com obras de múltiplas plataformas criadas por eles.
Como entrada ou prato principal, experimente a salada Machado de Assis (R$ 16), com alface, pedaços de laranja, lascas de parmesão, nozes pecan e molho à escolha do cliente. Uma boa combinação é com o italiano, à base de azeite, vinagre balsâmico, manjericão, sal e alho moído. O item combina com a taça de espumante rosé da vinícola Pericó, de São Joaquim (SC), com preço promocional de R$ 9 até 10 de janeiro.
Música para bons sujeitos
Mas nem só de pandeiro e tamborim são feitas as noites de Calaf. Toda quarta, a casa sedia a moderninha Moranga, festa organizada por um coletivo de DJs da cidade, além dos eventos sazonais de ritmos e inspirações diversas. Hoje, por exemplo, é dia da festa Porry, para curtir a ressaca do réveillon.
Segundo Calaf, são os turistas os maiores responsáveis por pedidos de pratos durante o jantar, entre os quais prevalecem, soberanas, as paellas marinera (com frutos do mar) e valenciana (que leva os pescados mais frango), por R$ 120, cada uma em versão que serve três pessoas.
Cultura nas paredes
A sugestão é o sanduíche de picadinho (R$ 25), feito com picadinho de filé-mignon, cogumelos frescos e queijo gruyère no pão ciabata. Nas sobremesas, as estrelas são as minitortas musse feitas em um formato que lembra um minibolo de casamento. Elas vêm nos sabores de chocolate, amora e frutas vermelhas (R$ 8, cada uma).
Livraria é lugar de doces
Livraria Cultura é uma referência na forma de vender livros, isso porque os clientes podem “consumir” o produto na loja, antes mesmo de pagar por ele. De quebra saborear delícias da Coffee & Co., cafeteria dentro da loja do Iguatemi. Entre os muitos preparos que são feitos no local, a gerente, Patrícia Freitas, sugere os doces.
Outros preparos que Patrícia oferece são os tostex (a partir de R$ 9), feitos em diversos sabores, como queijo, peito de peru ou presunto e queijo. E o chocolate quente (R$ 7), que vem à mesa em um estilo parecido com o europeu, “bem cremoso”.