Brasília-DF,
25/ABR/2024

Veja restaurantes cuja história se confunde com a de Brasília

Mesmo jovem, a capital dispõe de gastronomia com personalidade

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Rebeca Borges* Renata Rios Publicação:20/04/2018 06:15Atualização:19/04/2018 18:25

Inaugurado em 1966, o Beirute se estabeleceu como ponto tradicional em Brasília (Jefferson Pinhheiro/CB/D.A Press)
Inaugurado em 1966, o Beirute se estabeleceu como ponto tradicional em Brasília
 

 

Na véspera de completar 58 anos, Brasília abriga restaurantes que ajudam a formar a personalidade da capital, um dos maiores polos gastronômicos do país

Brasília é uma cidade nova que, tal qual um adolescente, desenvolve, aos poucos, a personalidade. São muitas as características que transformam esse espaço em uma cidade com cultura, entretenimento, gastronomia e lazer — e, claro, o que se come por aqui não fica de fora dessa aventura. 
 
A mais antiga das casas em atividade que se espalham no quadradinho destinado ao DF é a churrascaria Paranoá. O espaço foi inaugurado em 1956, durante a construção da barragem do Paranoá. O objetivo do local era alimentar os trabalhadores que erguiam a obra responsável por dar à cidade um lago. “Alimentávamos todo tipo de trabalhador. Meu pai servia mais de 2 mil pessoas por dia aqui.
 
Tínhamos lanches e refeições para atender desde os operários até Juscelino Kubitschek”, conta Fabiano Martins dos Santos, proprietário da Churrascaria Paranoá.
 
Outro ponto, que se consagrou e até hoje se mantém forte, é o Beirute. O local foi inaugurado em 1966, por proprietários árabes. Ainda passou pelas mão de outra família da mesma origem até ser comprado pelo pai e o tio de Francisco Emílio Martins. Ele revela que o marco para a casa foi a Copa de 1970. “As pessoas queriam um lugar para comemorar e o Beirute serviu como tal”, relembra.
 
A história do Beirute se mistura à do Pamonhão Kalu. “Quando chegamos à cidade, abrimos na mesma rua que o Beirute. Era tudo ainda muito vazio, não existia outra pamonharia”, revela Lucimar Calil, sócia do irmão, Acássio Calil. 
 
É claro que, entre diversas casas que ajudam a cidade a definir sua gastronomia, os doces também se evidenciam. Aberta em 1976, a Confeitaria Francesa foi fundada por Mimi Nicol. 
 
Já em 1980, era inaugurada a sorveteria Moka’s. “Somos a sorveteria sobrevivente. A nostalgia é o grande atrativo daqui”, pondera Marcos Simas.


A preferida de JK

Fábio Martins herdou a churrascaria Paranoá do pai e aposta na tradição para manter o local
 (Barbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)
Fábio Martins herdou a churrascaria Paranoá do pai e aposta na tradição para manter o local
 
Que tal comer no mesmo local que o ex-presidente Juscelino Kubitschek almoçava na época da construção de Brasília? Na churrascaria Paranoá é possível experimentar os mesmos preparos que JK adorava.
 
“Entre 1956, ano que inauguramos, e 1970, o nome daqui era Churrascaria Mossoró. Em 1970, decidimos mudar para Churrascaria Paranoá”, lembra Fábio Marques dos Santos, filho de Gomes Calixto dos Santos, que inaugurou o local. Segundo ele, a mudança parou por aí e o menu continua muito parecido com o que o pai oferecia: “Ainda temos os pratos que JK gostava de comer, como o cordeiro assado com sal grosso e alecrim (R$ 108, para 2 pessoas).”
 
Ainda na casa, a galinha caipira é uma opção com duas versões. Para quem gosta o chef oferece a galinha à cabidela — da qual o molho é feito com o sangue do animal. Para quem não curte molho com sangue, a opção com molho de açafrão está à disposição. Para acompanhar, polenta, arroz e farofa. Para quem prefere carne bovina, o churrasco misto vem à mesa com uma mistura de carnes, arroz, vinagrete e farofa (R$ 65).


Um sobrevivente no meio da W3 Sul


Entre as décadas de 1960 e 1980, a W3 era uma das avenidas mais movimentadas e importantes do Plano Piloto. Ali, na altura da 511 Sul, o Roma reinava entre os glutões à procura da cozinha italiana. Inaugurado em 1960 e, desde 1968, sob o comando do belga Simon Pitel, o Roma é um dos poucos a ocupar a W3 até hoje. 
 
Atualmente, o proprietário divide a chefia do estabelecimento com a filha,  ngela Pitel. Ela conta: “A história do Roma é a história do meu pai”. Juntos, pai e filha mantêm a proposta inicial da casa que, segundo  ngela, é “ser um restaurante familiar, com comida farta.”
E quem já visitou o restaurante sabe: é regra ir ao estabelecimento e pedir o filé à parmegiana, carro-chefe da casa. “Ele pode ser feito com filé bovino ou de frango e é empanado no próprio restaurante”, conta  ngela. O molho, fabricado na casa, também é essencial para dar o gostinho especial ao prato.
 
A iguaria pode ser acompanhada por arroz, batata frita, purê de batata ou massas. Quem quiser se deliciar pode aproveitar o rodízio de parmegiana, que custa R$ 49,90, por pessoa. Com filés de 380g a 400g, o prato também pode ser servido individualmente, por R$ 101,90, ou para duas pessoas, por R$ 111,90.


Milho e muita história

Lucimar Calil veio com a família, na década de 1970, tentar a vida na capital. (Ana Rayssa/Esp. CB/D.A Press)
Lucimar Calil veio com a família, na década de 1970, tentar a vida na capital.
 
 
O Pamonhão Kalu não é só um ponto conhecido pelos produtos de milho, ele é também um pedacinho da história da capital. Como tantas pessoas que ajudaram a construir Brasília e a identidade da cidade, a família de Lucimar Calil chegou ao Planalto Central na década de 1970. Mineiros, mas morando em Goiás, eles vieram com a intenção de abrir o negócio. O sonho foi concretizado em 3 de fevereiro de 1973.
 
“Ficávamos na frente do Beirute, na Asa Sul. Depois, em 3 de fevereiro de 1983, mudamos para a Asa Norte, onde estamos até hoje”, relembra Lucimar, que até hoje comanda a loja ao lado do irmão, Acássio Calil.
 
A proprietária, que até hoje põe a mão na massa e vai para a cozinha, revela que prima pela qualidade de seus produtos. “Uso sempre o milho fresco, faço a pamonha sem leite”, garante. “Tenho clientes que ainda são da época da Asa Sul e até hoje vêm aqui comprar a coxinha ou a pamonha”, orgulha-se.
 
Entre os produtos oferecidos na casa, a pamonha ganha diversas versões. Entre as mais comuns, Lucimar cita a pamonha com ou sem queijo, de sal ou doce (R$ 8); com linguiça (R$ 9); pamonha com linguiça e queijo (R$ 10); e pamonha com linguiça, queijo e pimenta (R$ 10). Já para quem quer provar a famosa coxinha da casa, de milho com frango, a unidade sai por R$ 4. “Essa coxinha foi uma criação da minha mãe. Ela começou a fazer na primeira semana nossa na loja e logo virou um sucesso.”


Cantinho da saudade nordestina

A carne de sol completa é o prato mais famoso do restaurante Xique Xique. (André Violatti/Esp. CB/D.A Press)
A carne de sol completa é o prato mais famoso do restaurante Xique Xique.
 
Desde 1979, a comida nordestina tem um cantinho especial em Brasília. O restaurante Xique Xique é comandado por Rubem de Lucena, que nasceu no Rio Grande do Norte, mas é morador da capital federal desde 1970. 
 
“Sentíamos falta dessa culinária do nordeste”, explica o proprietário, que abriu o estabelecimento com a família. Desde a inauguração, o restaurante é conhecido como símbolo da gastronomia nordestina em Brasília.
 
Rubem destaca que todo o cardápio da casa faz sucesso, mas o carro-chefe é a carne de sol completa. “Preparamos a carne de um dia para o outro. Deixamos em frigoríficos para que ela não perca a umidade  nem fique dura”, explica Rubem. Ele também destaca a atenção para que a carne não se torne salgada.
 
Para finalizar, o corte é assado na brasa, o que dá “um gostinho diferente”. A iguaria, que custa R$108 e serve até 3 pessoas, é servida com feijão de corda, paçoca, mandioca, arroz e manteiga de garrafa fabricada no próprio restaurante.


Chope, quibe e muita animação

Abrasileirado, o quibeirute surgiu da demanda dos clientes mineiros por receitas com queijos (Carlos Vieira/CB/D.A Press)
Abrasileirado, o quibeirute surgiu da demanda dos clientes mineiros por receitas com queijos
 
Brasiliense de raiz já deu uma passadinha no mais que tradicional Beirute. A casa está na cidade desde 16 de abril de 1966, data que era comandada pela família árabe Youssef Sarkis. 
 
“Em 1970, meu pai e meu tio compraram a casa. Eles trabalhavam como garçons lá e decidiram mudar o menu para algo mais brasileiro, sem abrir mão dos preparos árabes”, relembra Francisco Emílio Marinho.
 
Para Francisco, o toque de tempero brasileiro é um dos motivos do sucesso da casa. Porém, o que consagrou a casa na cidade foi a Copa de 1970. “Nessa época, não existia ainda nenhum ponto certo e o público decidiu comemorar aqui. Acabamos virando um ponto de encontro bastante eclético”, comemora Francisco.
 
Entre os carros-chefes da casa, a parmegiana (R$ 84, para duas pessoas) é um destaque. 
 
Outro queridinho, o quibeirute (R$ 10,40), é um quibe recheado com queijo prato e foi uma criação para agradar à clientela mineira, que sempre buscava algo com queijo, revela Francisco.


Festa dupla

Para comemorar o aniversário da casa, até domingo, duas promoções farão a alegria de quem for à casa. A primeira é com os chopes do Beirute, que sem por R$ 5,20 — devido aos 52 anos do restaurante.


Clássico candango

A dupla pastel e caldo de cana da Viçosa já virou marca registrada de Brasília (Marcelo Ferreira/CB/D.A Press)
A dupla pastel e caldo de cana da Viçosa já virou marca registrada de Brasília
 
COM ÊNFASE NA DOBRADINHA pastel e caldo de cana, a Pastelaria Viçosa é marca registrada de Brasília. Inaugurada na década de 1960 pelo mineiro Sebastião da Silva, a loja conquistou o coração dos brasilienses rapidamente. 
 
Hoje, comandada por Patrícia Rosa, filha do fundador, a Pastelaria Viçosa continua presente na vida dos brasilienses. 
“A atenção com a fritura é fundamental. É importante checar a temperatura ideal do óleo e a permanência do pastel na fritadeira, além de deixar escorrer bem”, conta Patrícia.
 
Além dos sabores tradicionais como queijo, carne e frango (R$ 3), a loja conta com pastéis especiais, a R$ 3,90, como o italiano e o de banana com canela.
 
Para finalizar, nada como um caldo de cana, produzido na fazenda da empresa. O copo com 300ml custa R$ 2,30. 
O combo de dois pastéis tradicionais e caldo de cana sai por R$ 8.


Qualidade garantida


Quem atualmente vai ao Santana nem imagina que o empreendimento, de mais de 600 metros quadrados, começou com uma lojinha, com apenas 60 metros quadrados, em 1984. “Estou aqui até hoje pela qualidade dos meus preparos”, garante Adonísio Santana, proprietário do local.
 
Sobre as receitas do cardápio, Santana revela que a ideia é ser bem caseiro. “Aqui aposto no tempero de comida simples, caseira. É uma comidinha de fazenda, que lembra avó”, garante. Ele ainda revela que o cardápio conta com opções que vêm do início da casa, como é o caso da galinha caipira.
 
“Eu tenho o mesmo fornecedor desde que abri. Ele traz as galinhas caipiras para mim de Goiás e o produto é sempre muito bom!”, pondera. Santana destaca a importância dessa relação de confiança: “É muito importante ter qualidade nessas matérias-primas. Se eu servir um produto ruim, ninguém vai querer”.
 
Entre os preparos servidos na casa, a galinha caipira (R$ 154,90 para seis pessoas) aparece entre os mais tradicionais e vem à mesa na panela de pedra, guarnecida de arroz, feijão-tropeiro, quiabo e milho.
 
Outro preparo que arranca suspiros da clientela é a picanha. Por R$ 114, comem quatro pessoas, e o preparo pode vir tanto na brasa quanto na chapa acompanhado de batata frita, arroz, feijão-tropeiro e vinagrete.


Doçura francesa

 
Sheila Leão, da Confeitaria Francesa: %u201CAqui tem rabanada o ano inteiro!%u201D. (Bárbara Cabral/Esp. CB/D.A Press)
Sheila Leão, da Confeitaria Francesa: %u201CAqui tem rabanada o ano inteiro!%u201D.
 

A tradicional Confeitaria Francesa foi inaugurada no ano de 1976. Fundada pela francesa Mimi Nicol, ao lado do marido, a loja trouxe as clássicas sobremesas europeias para o Brasil. 
 
Anos depois, após ser adquirida por uma família brasiliense, a loja passou a ser comandada, em 2017, pelas irmãs Sheila e Rejane Leão. Com a dupla, a cara do estabelecimento mudou. “Nova proposta, novo conceito, com o nome original. Demos uma repaginada, preservando os aspectos que faziam sucesso desde o início”, conta Sheila Leão.
 
Hoje, além de ter as clássicas sobremesas francesas no cardápio, o estabelecimento ganhou um gostinho brasileiro. “A Confeitaria tem cara de casa de vovó e gostinho de infância”, brinca a proprietária.
 
Um dos pratos mais famosos do local é a rabanada. Sheila garante: “Aqui tem rabanada o ano inteiro!”. Ela explica que o prato é feito com um pão fabricado na própria casa. Servida com sorvete e calda de doce de leite, a iguaria custa R$ 21. Além disso, Sheila conta que o prato é feito com leite condensado: “Bem brasileiro mesmo”.


De pai para filho

Aos 18 anos, o pai de Marcos Simas o colocou encarregado da sorveteria Moka%u2019s. (Carlos Silva/CB/D.A Press)
Aos 18 anos, o pai de Marcos Simas o colocou encarregado da sorveteria Moka%u2019s.
 
Quando completou 18 anos, em 1980, Marcos Simas ganhou um presente inusitado do pai: a sorveteria Moka’s. Aberto naquele ano, o local era um sonho do pai do proprietário, Karl Marx, que até essa aventura trabalhava como gerente de uma multinacional.
“Meu pai foi atrás de aprender a fazer o sorvete. Voltou do curso e me ensinou. Com o tempo, ele foi aprimorando a receita”, relembra Marcos.
 
Atualmente, Karl Marx freapenas frequenta o simpático espaço. “Aqui é uma coisa íntima, não é só o lado comercial. Temos um cenário de memória afetiva e as pessoas vêm para ouvir e contar boas histórias”, diz.
 
O proprietário revela que os sabores sem lactose e diferenciados estão com a casa desde o começo. “Meu pai ia muito ao Norte do país. Trouxe de lá vários sabores diferentes que não existiam na cidade”, lembra. 
 
Dentre os sabores oferecidos, Marcos destaca o de tapioca com coco, menta com flocos, doce de leite com flocos e tangerina. “Oferecemos sorvetes com memória gastronômica. É comum um pai trazer o filho aqui para conhecer, por ter feito parte da infância dele”. Qualquer sabor do sorvete da Moka’s sai entre R$ 11 (uma bola) e R$ 84 (oito bolas).


 
* Estagiária sob a supervisão de Vinicius Nader 
 
 
Tags: gastronomia

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