Conheça chefs de Brasília que estarão no Festival Fartura neste fim de semana
O evento destaca a gastronomia nacional por meio de expedições, eventos e uma plataforma que disponibiliza conhecimento ao público
Brasília está em busca da própria identidade gastronômica e, dia após dia, define um pouco mais do que serão os ingredientes e as receitas que vão se consagrar nesse segmento. Para contribuir e agregar à gastronomia da cidade, chega o Festival Fartura — Comidas do Brasil, que acontecerá amanhã e domingo, no Pontão do Lago Sul.
Essa é a primeira vez que o festival, que já passou por diversos locais do Brasil, faz uma edição na cidade. A curadora do Fartura, Luiza Facarotta, explica que o evento começa pelas expedições, que já visitaram os 26 estados e o Distrito Federal. “Viajamos todo o país para conhecer as pessoas que fazem as comidas por todo o Brasil”, se lembra.
Por lá, a valorização da gastronomia brasileira é regra: “O Fartura é uma plataforma 100% concentrada na comida brasileira”, garante. Entre os nomes convidados, chefs de Brasília e do Brasil. Entre os nomes locais: Francisco Ansiliero, do Dom Francisco; André Castro, do Cozinha Authoral; e Gil Guimarães, do Parrilla Burger. “Atualmente, temos muitos eventos, o que diferencia o Fartura é a pesquisa profunda sobre culturas que estão sendo perdidas”, pontua.
No total, estão previstas mais de 60 atrações, com diferentes experiências: Espaço chefs e restaurantes, onde os comensais poderão comprar as delícias feitas para o evento; Cozinha ao vivo, local destinado à demonstração de produção, preparo e, após finalizadas, venda de receitas; Espaço conhecimento, local voltado para renomados profissionais darem palestras; e Espaço interativo, onde o público é convidado para colocar a mão na massa.
Eterno professor
A gastronomia brasileira é parte do dia a dia de Francisco Ansiliero. O chef inaugurou o Dom Francisco em 1993 e, de lá para cá, investe cada vez mais em conhecer os ingredientes que o cerrado tem a oferecer. Em suas aventuras mais recentes está fazer um levantamento de preparos típicos da região central do Brasil durante a época da construção de Brasília. “Eu quero participar e contribuir para desenvolver a gastronomia daqui”, comemora.
Às 13h de sábado, Francisco abre o espaço da Cozinha ao vivo com uma receita cheia de referências. Começa pela escolha da proteína, a carne de porco. “As pessoas precisam perder esse preconceito com essa carne. Ela é saudável, saborosa e ainda é barata”, defende o chef, que fará um filé-mignon suíno regado com molho de umbu, seriguela e castanha-do-Brasil e guarnecido de farofa de ovos e arroz de gariroba, dependendo da região.
“Fiz um prato usando a gariroba, pois ela é uma bandeira do cerrado. Fiz um arroz suave, mas mantive a farofa de ovos, pois as pessoas têm muita resistência a gariroba achando que será muito amarga.” Sobre o molho, ele promete um resultado diferenciado. “Vai ser um molho que vai ter uma determinada acidez, não vai cansar o paladar”, descreve.
Três frentes
Entre os nomes que o evento convidou está o chef André Castro, do Cozinha Authoral. Na casa, o chef já teve experiências com alguns ingredientes do cerrado e gosta do resultado. “É muito importante para Brasília receber em um festival tão grande. Merecíamos esse tipo de evento na cidade e, finalmente, ele chegou!”, comemora Castro, que vai participar de três formas do evento.
Primeiro, o chef integrará o Espaço Chefs e Restaurantes. No local, Castro comercializará a Croqueta cremosa de ossobuco com vinho tinto, acompanhado de redução de leite com alho. “Essa receita é diferente do croquete. A croqueta é mais cremosa, uma experiência diferenciada que eu recomendo”, sugere o chef. Ainda nas caçarolas, Castro dará uma aula no Espaço Interativo das 13h às 14h30, no sábado. “Nessa aula, escolhi um arroz de uma comunidade Kalunga para fazer o Socarrat com galinha caipira e camarão, eryngui tostado e aioli de pequi. “Essa é uma receita que quis misturar referências do cerrado com o mar e o resultado ficou muito interessante”, garante o chef.
Para finalizar, no domingo, ele fecha o Espaço conhecimento com o bate-papo sobre o Manifesto Cerrado no prato, ao lado de Ana Paula Jacques e Eudes Assis, com mediação de Luiza Fecarotta, curadora do Fartura Comidas do Brasil. “Temos que usar mais os ingredientes da nossa região. No Fartura, o público recebe mais que uma praça de alimentação a céu aberto. É um espaço para interagir com o público e outros profissionais desta área”, conclui.
Mistura de sucesso
O renomado chef Marco Espinoza, do Taypá, dará um gostinho de sua presença no evento. Às 16h de amanhã, o chef dará a aula no Espaço Conhecimento. “De uns tempos para cá, pude perceber que as pessoas estão mais cientes sobre o que estão consumindo e, ao mesmo tempo, aumentaram as alternativas”, pontua o chef, que revela que a oportunidade de participar no evento chegou à casa e foi logo aceita: “Gosto de mostrar o trabalho da casa”, fala com modéstia.
Para sábado, Marco vai ensinar o Atum Nikkei, uma receita que mistura a gastronomia japonesa a referências brasileiras. Trata-se de um atum em crosta de gergelim branco e preto, guarnecido com purê de ervilha com um toque de wasabi e regado com molho de rapadura. “Esse é um prato que criei para o Taypá, mas saiu do cardápio há alguns anos e agora volta”, informa.
O chef estrangeiro relembra que o primeiro contato com os ingredientes nacionais foi muito surpreendente. “Moro aqui há 10 anos. No primeiro momento, fiquei muito surpreso, muita alternativa de carne, de peixe, de tudo. Outro ponto que me chamou a atenção foi a evolução dos clientes e dos chefs nesses anos”, elogia.
Artesanal de verdade
No espaço de chefs e restaurantes do festival, os fãs de hambúrguer têm aperitivos garantidos. O chef Gil Guimarães, do Parrilla Burger, estará presente com o B.B.C. burger, com hambúrguer Hereford, queijo da Canastra e bacon artesanal. Também será oferecida uma geleia de pimenta com abacaxi. “Tudo é artesanal de verdade, feito por nós”, garante Gil.
Com carreira que começou na França, o chef começou com uma casa na Quituart mais voltada para pães, vinhos e petiscos. Gil também comanda a Baco Pizzaria, com três unidades em Brasília. Ele hoje expandiu os negócios para São Paulo, onde tem três restaurantes: Distrito, Napoli e C6. “Já fiz de tudo, mas hoje faço mais pizza napolitana e hambúrguer”, diz Gil.
“Tudo é muito artesanal sempre. Fazemos uma chamada cozinha de quintal, aquela de mãe ou de vó. Como sou mineiro, também dou um foco maior para coisas de Minas Gerais”, ele destaca. Contudo, uma das grandes características dos empreendimentos dos chef hoje é o preparo artesanal e o incentivo aos produtores locais.
Versatilidade na cozinha
Autodidata e formada em pedagogia, Andréa Munhoz aprendeu a cozinhar e se aperfeiçoou sozinha. Por quase 20 anos, trabalhou no Lake’s, restaurante da família e um dos mais tradicionais da cidade. “No mês que vem, entraremos com um cardápio novo”, ela destaca. O menu até hoje é assinado pela chef, que também foi responsável pelo cardápio do Palácio da Alvorada por quatro anos.
A cozinheira inaugurou também o Grand Cru, casa reconhecida pelos pratos sofisticados e com opções diversas de harmonização com vinhos. Hoje, ela toca o Flair Cozinha & Café, no Setor Hoteleiro Norte, com menu executivo de segunda a sexta. “O cardápio muda semanalmente e tem cinco pratos”, explica Andréa.
No festival, ela estará no Espaço Conhecimento de sábado. A partir das 18h, a chef ministra uma aula sobre a versatilidade dos molhos na culinária. “É uma coisa que as pessoas têm dificuldade e eu acho que faz muita diferença num prato”, diz Andréa. A aula abordará molhos para salada, carnes e massas.
Junto e misturado
Megume Suda é uma das chefes convidadas para ministrar aula no Cozinha ao Vivo, no sábado, às 17h. “Nunca fui, mas pesquisei sobre esse festival e achei muito interessante. Quis fazer parte e esse ano estarei lá”, informa a Meg, como é chamada. Ela destaca que o mercado na capital é amplo e aberto a esse tipo de evento. “A oportunidade de achar produtores próximos e de qualidade é muito boa para os chefs, assim como o mercado daqui tem clientes seletivos e que apreciam a boa gastronomia”, pondera.
Para a aula, a chef aposta em uma receita simples, mas muito bem-recebida, o Mexidão. “Essa foi uma receita que criei a partir da feijoada da Confraria Chico Mineiro. Coloco nela arroz, feijoada, couve, vinagrete e farinha de mandioca. Para complementar, ovo frito, banana à milanesa e torresmo”, descreve.
“Essa é uma receita que, no restaurante, é feita com todos os ingredientes novos, mas vem como uma mão na roda para a dona de casa, que pode aproveitar as sobras do almoço, por exemplo, e não desperdiçar”, sugere. Ela ainda destaca que a receita simples não tem segredo. “Eu faço questão de fazer uma comida que o cliente se sinta comendo em casa. Para isso busco ingredientes bons e comida sempre fresca”, finaliza.
Prata da casa
Gaúcho que chegou a Brasília com poucos dias de vida, Marcelo Petrarca guarda na bagagem uma série de prêmios e muita experiência. Depois de cursar a Escola de Hotelaria de Sevilha, trabalhou em casas conceituadas na Espanha e Itália, onde atuou ao lado de nomes reconhecidos mundialmente, como Martin Berasategui e Carlo Cracco.
Depois de passar por alguns restaurantes em Brasília, abriu, ao lado dos irmãos, o restaurante Bloco C. Hoje, é dono também do Reverso, no Hotel Blue Tree e do Lago Restaurante. No Fartura, Marcelo estará à frente de uma aula-show com o tema Cozinha descomplicada, às 14 horas do sábado. “Uma cozinha descomplicada não precisa ser uma cozinha que não preze por produtos de alta qualidade e uma boa técnica”, explica.
Para o chef, a descomplicação está em oferecer um prato que seja facilmente consumido pelo cliente. “Descomplicar de uma forma com que as pessoas tenham vontade de replicar sua cozinha em casa, vontade de comer mais vezes.
Pioneira e diferenciada
Quando o assunto é utilizar as plantas do cerrado, Rita Medeiros não pode ser deixada de lado. Há 14 anos, a chef trabalha com sorvetes artesanais feitos com frutos do cerrado. “Participamos do Fartura há seis edições. Essa é uma iniciativa importante e o festival ficou muito legal para a gastronomia nacional”, comenta Rita, orgulhosa do trabalho pioneiro que realiza.
Sobre a tendência, ela conta que o uso das plantas do Cerrado começou a ser mais abordado há cerca de 15 anos. “Foi muito difícil no começo, o cerrado ainda é um bioma muito desconhecido, apesar de toda a riqueza que ele tem para oferecer”, pondera. Rita ainda explica: “A diversidade é muito grande por metro quadrado, além das espécies desse tipo de vegetação ter uma boa convivência entre espécies”, detalha.
Para a data, Rita separou alternativas usando os sabores do cerrado. “São sorvetes que trabalhamos na loja e estarão à disposição de quem desejar adquirir”, informa. Entre os sabores, ela lista o de araticum, de pequi e de cagaita, por exemplo. “De uns tempos para cá, o mercado de sorvetes e cafés mudou muito. As pessoas têm procurado produtos com diferenciais, além da qualidade”, comemora.
Toque artístico
Dentre os chefs presentes no Fartura, Diego Badra vem com uma proposta doce. O cozinheiro, formado no IESB, já passou pela Nova Zelândia, por São Paulo e voltou a Brasília. Hoje, ele trabalha no restaurante Oliver. “Lá, tem um cardápio de fusão, com cozinha mediterrânea e brasileira, tem cozinha nikkei e peruana também”, esclarece Diego sobre o restaurante.
Para o fim de semana, ele desenvolveu um brigadeiro de cumaru, farofa de baru, calda de chocolate e manjericão. “Eu tive um desafio no Oliver de uma cliente que pediu um brigadeiro de colher para um evento. Gosto de pegar receitas com conotação simples e dar um toque mais complexo, desenvolver o toque estético da apresentação”, ressalta. Dessa maneira, ele conseguiu aproveitar a proposta do evento e dar o toque Diego especial.
O doce será montado em um azulejo, em vez de um prato. Ao saborear a delícia, o cliente leva a peça para casa. Habilidoso, ele fala mais sobre a identidade gastronômica: “Não gosto de focar a cozinha em determinado local, como lugares que são focados em gastronomia italiana, por exemplo. Minha cozinha é livre e contemporânea, moderna.”
*Estagiária sob supervisão de Igor Silveira
ONDE COMER
Festival Fartura — Comidas do Brasil Brasília
Pontão do Lago Sul (SHIS Ql 10, lt 1/30, Lago Sul)
Sábado, das 12h às 22h. Domingo, das 12h às 20h
Ingressos (antecipados, R$ 20; meia-entrada antecipada, R$ 10; na portaria, R$ 25; meia-entrada na portaria, R$ 12,50)
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