Crônica: Sebastião Rodrigues, o Tiãozinho, comandou grupo de baile popular no DF
Os convidados já estavam instalados nas várias mesas da sala, mas não se ouvia nada, além das conversas animadas
Publicação:15/05/2015 08:00Atualização: 14/05/2015 15:44
A festa prometia. Cervejas geladas, garrafas de bons uísques, petiscos árabes para abrir o apetite, mesa farta para o jantar e a promessa de boa música. Os convidados já estavam instalados nas várias mesas da sala, mas não se ouvia nada, além das conversas animadas; os músicos mandaram o Lima, deram o cano.
O anfitrião fez ligações e ouviu desculpas esfarrapadas. Desolado e atarantado — e sem desconfiar que os convidados estavam muito bem sem os caloteiros —, andava de um lado a outro. No íntimo, baixinho, cantava o bolero que pede ao relógio para não marcar as horas.
Não adiantou muito; os segundos seguiram em frente, provocando um barulho ensurdecedor na cabeça dele. Procurava o que fazer; não sabia se trazia no peito ciúme, despeito, amizade ou horror. Mas não pensava em vingança porque é um bom sujeito.
A providência não falha. De repente, Sebastião Rodrigues entra na casa. Não sei se o leitor sabe, mas estávamos diante do responsável por incontáveis romances. Tem gente que põe a culpa no Roriz, mas Brasília seria bem menos populosa se não fosse Tiãozinho. Não me entendam mal: ele comandou o grupo de baile mais popular de toda a região. Ou seja: fez a cama de muita gente. Literalmente.
Filho de ferroviário, Tiãozinho nasceu onde o trem faz a curva, pouco antes de chegar a Silvânia. Quando Goiás ficou pequeno, veio para Brasília como um dos Big Boys de Raulino, conjunto — era assim que os grupos musicais eram chamados — que tocava em todas as festas bacanas; estreou no Palácio do Planalto. Fundou o Squema Seis, tocou em todo o Brasil; carreira de sucesso, encerrada há alguns anos.
Teve a vida estudada em universidade, quando virou tese de mestrado, e é admirado pelos colegas — coisa rara em se tratando de um músico de baile, que normalmente é vítima de preconceito. Tiãozinho, ao contrário, é reverenciado, mas agora só toca entre amigos.
Nos últimos meses, ele vem sentindo uma coceirinha. Não quer fazer mais bailes, mas voltou a estudar música todo dia; combinou sessões com amigos e tem se encontrado com guitarristas bem mais novos para fazer umas coisinhas diferentes.
Para mostrar que a coisa é séria, pediu ao Haroldinho Mattos para dar uma guaribada na guitarra Gibson 335 modelo 1967 (que, ele descobriu, hoje, vale uma grana nos leilões da internet). No que vai dar toda a movimentação ainda não há como saber.
Voltemos à festa. Tiãozinho chegou na rodinha e foi inteirado sobre a angústia do anfitrião. Prevenido, contou duas ou três histórias rápidas para mostrar que nunca foi pego no contrapé e anunciou: – Vou ali no carro. Voltou com um violão de cordas de naylon, abriu uma roda e, sem necessidade de amplificação, comandou o sarau.
A noite foi pequena. A cantoria entrou pela madrugada e sobrou comida. Mas tem gente achando que o anfitrião deu o golpe. Más línguas dizem que depois de confirmar a presença do Tiãozinho, ele teria dispensado os outros músicos. Estava certo: só iam atrapalhar.
A festa prometia. Cervejas geladas, garrafas de bons uísques, petiscos árabes para abrir o apetite, mesa farta para o jantar e a promessa de boa música. Os convidados já estavam instalados nas várias mesas da sala, mas não se ouvia nada, além das conversas animadas; os músicos mandaram o Lima, deram o cano.
O anfitrião fez ligações e ouviu desculpas esfarrapadas. Desolado e atarantado — e sem desconfiar que os convidados estavam muito bem sem os caloteiros —, andava de um lado a outro. No íntimo, baixinho, cantava o bolero que pede ao relógio para não marcar as horas.
Não adiantou muito; os segundos seguiram em frente, provocando um barulho ensurdecedor na cabeça dele. Procurava o que fazer; não sabia se trazia no peito ciúme, despeito, amizade ou horror. Mas não pensava em vingança porque é um bom sujeito.
A providência não falha. De repente, Sebastião Rodrigues entra na casa. Não sei se o leitor sabe, mas estávamos diante do responsável por incontáveis romances. Tem gente que põe a culpa no Roriz, mas Brasília seria bem menos populosa se não fosse Tiãozinho. Não me entendam mal: ele comandou o grupo de baile mais popular de toda a região. Ou seja: fez a cama de muita gente. Literalmente.
Filho de ferroviário, Tiãozinho nasceu onde o trem faz a curva, pouco antes de chegar a Silvânia. Quando Goiás ficou pequeno, veio para Brasília como um dos Big Boys de Raulino, conjunto — era assim que os grupos musicais eram chamados — que tocava em todas as festas bacanas; estreou no Palácio do Planalto. Fundou o Squema Seis, tocou em todo o Brasil; carreira de sucesso, encerrada há alguns anos.
Teve a vida estudada em universidade, quando virou tese de mestrado, e é admirado pelos colegas — coisa rara em se tratando de um músico de baile, que normalmente é vítima de preconceito. Tiãozinho, ao contrário, é reverenciado, mas agora só toca entre amigos.
Nos últimos meses, ele vem sentindo uma coceirinha. Não quer fazer mais bailes, mas voltou a estudar música todo dia; combinou sessões com amigos e tem se encontrado com guitarristas bem mais novos para fazer umas coisinhas diferentes.
Para mostrar que a coisa é séria, pediu ao Haroldinho Mattos para dar uma guaribada na guitarra Gibson 335 modelo 1967 (que, ele descobriu, hoje, vale uma grana nos leilões da internet). No que vai dar toda a movimentação ainda não há como saber.
Voltemos à festa. Tiãozinho chegou na rodinha e foi inteirado sobre a angústia do anfitrião. Prevenido, contou duas ou três histórias rápidas para mostrar que nunca foi pego no contrapé e anunciou: – Vou ali no carro. Voltou com um violão de cordas de naylon, abriu uma roda e, sem necessidade de amplificação, comandou o sarau.
A noite foi pequena. A cantoria entrou pela madrugada e sobrou comida. Mas tem gente achando que o anfitrião deu o golpe. Más línguas dizem que depois de confirmar a presença do Tiãozinho, ele teria dispensado os outros músicos. Estava certo: só iam atrapalhar.