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Crônica da semana: Falta coragem

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Paulo Pestana Publicação:16/02/2018 06:00
Agora, sim, temos o ano pela frente. Ou mais ou menos: já, já tem Copa do Mundo, o que nos deixa pelo menos umas três semanas numa espécie de bolha —  aliás, depois de saber o horário dos jogos na Rússia, já tem gente caçando desculpas para matar o serviço. De qualquer forma, é hora de pensar à frente, mesmo com o presente conturbado.

E o povo está ligado. A brasa do carnaval ainda não havia virado cinza quanto Melinha, responsável pela excelência da comida do Bar do Tião, perguntou: “Como tem que ser o novo presidente e o novo governador?”

Não pediu para virar o telefone e ficar na frente de um lugar bonito igual à TV, mas queria saber a nossa opinião, porque se encanta com alguns embates à mesa —  mesmos os mais ríspidos —  sabendo que, no final, todos deixam sua opinião com respeito à do outro. A saideira delimita a paz. E Melina disse mais: “Numa palavra”.

Acho que a recente exposição da figura do ex-primeiro-ministro britânico Winston Churchill tem obnubilado meu pensamento. O político inflexível que aparece nos livros históricos tem dado lugar a uma personagem muito mais interessante que, na verdade, é uma criação do cinema e nasce de episódios que nunca aconteceram, como a cena do metrô, no filme O destino de uma nação, em que ele conversa com o povo.
A partir da licença ficcional, a verdadeira personalidade de Churchill fica exposta em cenas marcantes, mostrando que a força dele está exatamente na capacidade de liderar nas horas mais difíceis. Em outro filme lançado ano passado, Churchill, de Jonathan Teplitzky, ele anuncia a uma secretária —  com quem vivia às turras —  que o irmão está vivo. Na série The crown, a secretária morre atropelada por um ônibus durante o nevoeiro de 1952. Nada disso aconteceu, mas mostra melhor o caráter do político.

Churchill é um parque de diversões para grandes atores: se Gary Oldman está com a mão no Oscar, ele tem concorrentes à altura em John Lithgow (na série The crown) e Brian Cox (Churchill), só para ficar nos mais recentes. Mas já houve Bob Hoskins (When lions roared, 1994), Albert Finney (O homem que mudou o mundo, 2002), Simon Ward (O jovem leão, 1972) ou Brendon Gleeson (Tempos de tormenta, 2009) — todos brilhantes.

Claro que na hora em que Melina fez a pergunta não pensei em nada disso, muito menos no cinema. Mas eu procuro por candidatos com coragem. Foi a palavra que eu escolhi. Não a falsa coragem da bravata, ou a insensatez do impensado; muito menos o destemido ou o irresponsável.

Mas a coragem que nasce da postura pessoal, da determinação e do compromisso com o futuro. O oposto da política oportunista e populista desses dias, um criatório de homens públicos covardes que só não hesitam ao dizer “não é comigo”. Na cabeça, vinha uma frase de Churchill: “Coragem é o que é preciso para se levantar e falar, a coragem é também o que é preciso para sentar e ouvir”.

Tags: crônica

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