Brasília-DF,
09/DEZ/2024

Crônica da semana: A bossa do choro

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Paulo Pestana Publicação:31/08/2018 06:00
Quem conta a história é Lício da Flauta. Voltando ao Brasil, ainda no avião, ele ouviu o amigo americano falar: “Que beleza, vou ouvir muita bossa nova”. O flautista deu uma ducha gelada de sinceridade: “Não vai não. Eu só ouço bossa nova no exterior”. O caso já tem muitos anos e dá para dizer que o que estava ruim, piorou.

Não se toca mais bossa nova por aqui. É uma música que ficou sofisticada demais para a sociedade de símios que estamos formando; e não dá para ouvir tomando Red Bull.
 
Antônio Lício é do chorinho – foi inclusive o primeiro presidente do Clube do Choro de Brasília – mas andava incomodado ao ver que nada era feito para lembrar os 60 anos da bossa nova. Ele tinha 14 anos de idade em 1958, quando foram lançados o disco de Elizeth Cardoso com o não creditado violão de João Gilberto e, principalmente, o primeiro 78rpm (discos pesados e quebradiços com uma faixa de cada lado) do baiano. E lembra o impacto que sofreu.
 
Assim como o choro, a bossa nova surgiu como um novo jeito de tocar. O choro criou uma nova linguagem para polcas e maxixes, usando flauta, violão e cavaquinho como base (às vezes entravam ophicleide e trombone). Aos poucos foi se moldando, a partir dos bordões do violão, como um gênero musical que vem resistindo a tudo.
 
Com a bossa nova aconteceu a mesma coisa. João Gilberto criou uma batida diferente, para tocar sambas e canções de formato tradicional – embora sensacionais, criados a partir de harmonias e recursos mais comuns na música erudita e no jazz e que, aliás, já vinham sendo experimentados desde a década de 1940, por Custódio Mesquita. E formatou-se a partir do toque de bateria criado por Milton Banana.
Ao lado do futebol – o de antigamente – a bossa nova está entre as maiores manifestações culturais brasileiras, reconhecida no mundo todo. A terceira é a caipirinha.
 
E Lício, que correu o mundo como economista que pensa fora da caixinha e propõe soluções originais para alguns dos maiores problemas do mundo moderno, acreditou que poderia fazer sua parte e render uma homenagem à bossa nova. E aproveitar para lembrar os tempos de tenra juventude, quando tocava as canções de Tom e Vinicius com os colegas.
 
Esta noite, às 21 horas, ele e um grupo de sete amigos músicos, se reúnem para um evento único na Quituart, espaço gastronômico que fica no canteiro central do Lago Norte, na altura da QI 10. Será um desfile com alguns dos maiores clássicos do gênero que, ainda hoje, projeta o país no exterior – Paul McCartney costuma se referir ao Brasil como a terra da música bonita.
 
Se Todos Fossem Iguais a Você, uma das primeiras parcerias entre Tom Jobim e Vinicius de Moraes, está garantida, assim como Chega de Saudade e Desafinado. As canções serão apresentadas na voz de Juliana, Nivaldo (clarineta), Denival (sax), Arapa (violão), Edmar (baixo), De Paula e Jó K (percussão). Mais o aulete Lício, de folga no choro.

“Ao lado do futebol – o de antigamente – a bossa nova está entre as maiores manifestações culturais brasileiras, reconhecida no mundo todo. A terceira é a caipirinha”.

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