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Crônica da semana: Guerra em quadrinhos

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Paulo Pestana Publicação:31/05/2019 06:00
A memória brasileira é cheia de buracos. Há alguns dias, a Câmara dos Deputados fez uma homenagem aos Dia da Vitória aos veteranos de guerra do Brasil, os pracinhas. Foi uma sessão vazia; os nobres deputados deviam ter muito o que fazer para perder tempo homenageando três heróis de verdade.

É mais uma história que o Brasil tenta ignorar, que foi sendo apagada com o tempo, desde que a população carioca recebeu os combatentes com uma festa emocionante.

Mais de 460 brasileiros perderam a vida na Europa (chegam a quase 2000 se contados os que morreram em navios torpedeados); os atos de bravura são reconhecidos pelos aliados, os próprios italianos comemoram o Dia da Vitória cantando a Canção do Expedicionário.

A iconoclastia brasileira buscou reduzir a importância dos pracinhas na guerra —  notadamente o livro As duas faces da glória, de William Waak, com informações desmentidas pelos fatos e que hoje serve apenas como curiosidade, trazendo uma história triste e parcial.

Ainda bem que há resistência. Na sessão da Câmara, de surpresa, o jornalista Alexandre Garcia deu um depoimento emocionado que devia ser reproduzido em todo canto. Citou um fato desconhecido da maioria, a recente descoberta de mais um corpo de soldado brasileiro em terras italianas, que seria a 446ª vítima.

Há também livros, desde o seminal registro A luta dos pracinhas, de Joel Silveira e Thassilo Mitke, a 1942: O Brasil e sua guerra quase desconhecida, de João Barone —  que ganhou edição ampliada — e a Nossa segunda guerra, de Ricardo Bonalume Neto, de rigorosa pesquisa.

Mas há muitas outras maneiras de se contar essa história, e uma novidade está sendo preparada aqui em Brasília por Athos Eichler Cardoso, que reuniu todas as publicações em quadrinhos lançadas pelo Suplemento Juvenil e Globo Juvenil, que participaram do esforço de guerra. Tudo será publicado em livro.

O Suplemento Juvenil (inicialmente batizado de Suplemento Infantil), criado por Adolfo Aizen, foi o pioneiro a publicar quadrinhos de forma regular, logo seguido pelos concorrentes. Athos coletou todo o material relacionado com a guerra e publicado durante o conflito em acervos de colecionadores; está em fase de edição.

Não é a primeira vez que ele enfrenta uma empreitada como esta. Em 2002, o coronel Athos conseguiu publicar o livro As aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora, com a reprodução integral dos primeiros quadrinhos produzidos no Brasil, por Angelo Agostini, entre 1869 e 1883, e recuperou o protagonismo brasileiro na narrativa gráfica.

Nhô-Quim era um simplório brasileiro obrigado a conviver na corte, um antecessor de Mazzaropi que, no restaurante, sem entender o cardápio cheio de palavras estrangeiras, só consegue tomar sopa.

E Zé Caipora pode ser considerado o primeiro herói aventuresco publicado em forma gráfica — os 75 capítulos de suas aventuras foram reunidos no livro. Trapalhão e algo azarado, enfrenta o perigo das selvas brasileiras, é quase morto a flechadas, vence uma jiboia no braço, é salvo de um ataque de onça pelas índias, mas acaba na cadeia da cidade... a história não termina. E agora Athos vai à guerra.

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