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26/ABR/2024

Comida que afaga: Ana Holanda lança livro com receitas afetivas

Em 'Minha mãe fazia', Ana Holanda mescla receitas afetivas a crônicas saborosas

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Rebeca Oliveira Publicação:16/06/2017 06:00
Escritora Ana Holanda, autora do livro 'Minha mãe fazia' (Bruno de Souza /Divulgação )
Escritora Ana Holanda, autora do livro 'Minha mãe fazia'
 
Seja na literatura, seja na cozinha propriamente dita, a gastronomia afetiva nunca esteve tão em alta. Criações que conectam quem as faz e as consome às memórias, distantes ou recentes, estão mais comuns em restaurantes e publicações atuais. Suflê de milho, brigadeirão e bolo de chocolate. Galinhada, peru de Natal e cozido de carne. Boa parte delas ganham longevidade em livros de receita que passam, com frequência, a serem reconhecidos como verdadeiros patrimônios históricos.
 
 
 
Os escritos da família serviram de base à jornalista e escritora Ana Holanda para criar a página Minha mãe faziano Facebook. Com 20 mil curtidas no espaço virtual, ela se propôs a resgatar comidinhas e lembranças da infância. Acompanhadas de pequenas crônicas, as receitas agora foram publicadas em livro homônimo, lançado há pouco. Segundo a autora, refletem sua essência, mas também a de muita gente. “É resgate de afeto”, complementa.
 
“Os livros de receita são um reflexo na nossa história pessoal e da comunidade na qual estamos inseridos. Observar a evolução (nas receitas, nas porções, nos modos de fazer) é perceber as mudanças pelas quais passamos nas últimas décadas. O processo de industrialização trouxe as receitas retiradas das páginas dos cadernos para as latinhas, por exemplo. Mas não é só isso. Tem o sutil também. É mais do que um caderno com modos de fazer. É um pedaço da vida”, acredita.
 
De certa forma, tanto o espaço virtual quanto o livro são uma homenagem à mãe de Ana Holanda, Ligia Holanda. “Minha mãe não era de abraçar, de falar palavras doces, então eu enxergava na comida a maneira de me relacionar com ela. E ela sempre cozinhou muito bem. Hoje percebo que a comida representa muito isso: amor, afeto, carinho”, conta.
 
O boom da comida afetiva
“O que vejo na gastronomia afetiva não é muito diferente da moda retrô, que valoriza objetos de um determinado tempo; ou de movimentos como o slow, que pregam que a gente encontre nosso próprio tempo para fazer as coisas, para se alimentar, para plantar e colher. A gastronomia afetiva está atrelada à valorização da comida caseira, do cheiro de bolo assado invadindo a casa, em você se dar um tempo para sovar um pão; em esperar o tempo certo para o caldo da carne apurar. Os nutricionistas e os chefs de cozinha estão cada vez mais propagando: cozinhem mais, preparem suas refeições, comam devagar, comam com prazer, prestem atenção no que está fazendo, enfim. A pressa na rotina, no andar, no trabalhar, no comer só nos levou a excessos de peso, de problemas de saúde, de ansiedade. Então, vejo esse movimento como uma retomada da gente mesmo, do sentir, do se dar um tempo para cozinhar, saborear, reviver aromas e sabores de infância.”
 

 
Criança na cozinha 
“Muita coisa mudou. Os pais se expressam mais e as crianças, também. Não existem mais as palavras embotadas, não permitidas (de uma maneira geral). Pais falam, atualmente, com mais facilidade e frequência o que estão sentindo e as crianças, também. E a cozinha é um reflexo disso, de permitir que o outro se aproxime, toque, experimente, sem uma relação de domínio, controle e poder excessivo. É claro que precisa existir o limite do que é seguro – e das vontades de cada um. Minha filha Clara, de 8 anos, adora cozinhar. Ela tem um avental só dela que veste sempre que quer preparar algo comigo. Ela põe a mão na massa, mistura, sova, experimenta e já corta ou pica alimentos simples. Mas eu ainda não gosto que ela fique próxima do fogo ou da panela quente. Lucas, de 8 anos (gêmeo da Clara), já não gosta tanto de ficar perto na cozinha. Ele curte ver o processo de transformação, da massa crua do bolo ao bolo pronto. Ele acha isso mágico. Enfim, é também permitir que cada um seja aquilo que é; sem imposições.”
 

 
Para mães sem tempo
“Eu costumo dizer que a cozinha sempre me resgata. É um momento para estar comigo, com meus pensamentos, meu sentir. Coloca-me  no eixo, acalma. Às vezes eu também não tenho tempo para cozinhar todos os dias. Mas quando eu cozinho, quero que aquilo seja intenso, quero estar ali, curtir, aproveitar. Então, só vá para cozinhar quando estiver inteira para aquilo, caso contrário vira obrigação e daí você cai no automatismo. Ou seja, perde o sentido primordial que é fazer com amor e com alma. Quando a gente faz sem alma, salga demais, deixa queimar, perde o ponto.”
 
SERVIÇO 
 (Reprodução )

Minha mãe fazia
De Ana Holanda
Rocco, 240 páginas
Preço médio: R$ 29,90

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