Longa Relatos selvagens estreia em roteiro corajoso e sem limites
O diretor Damián Szifron une seis histórias autônomas em uma galeria de personagens em dia de fúria
Concorrente em Cannes, premiado pelo público em San Sebastián e candidato com 21 indicações para a Academia de Cinema da Argentina (país que selecionou a fita como pré-candidata ao Oscar), Relatos selvagens flerta com a mordacidade dos irmãos Coen e com a faceta calculista de Lars von Trier.
Seis histórias autônomas unem uma galeria de personagens em dia de fúria. O descontrole baliza ações da garçonete (Julieta Zylberberg), que quer justiçar o pai suicida, até os desconhecidos Diego (Leonardo Sbaraglia) e Mário (Walter Donado), antagonistas no trânsito de uma estrada desértica.
Ao som de Lady, lady, lady, Szifrón mostra um carro usado como arma, da forma mais singular que o cinema já propôs. Entre escatologia e o borbulhar do absoluto estresse, o cineasta desautoriza festejos de casamento, em episódio estrelado por Érica Rivas e Diego Gentile (um Bradley Cooper hispânico), levando argumentos às últimas consequências.
Num comparativo, Melancolia fica até anêmico de originalidade. Além de investir tema social em putrefato contexto de corrupção (com bela atuação de Oscar Martínez), a trama abraça a sinuca de bico que cerca o engenheiro Bombita (Ricardo Darín), indignado e explosivo. Com tanta pólvora no ar, é melhor que tantos tipos exaltados não se encontrem em cena.