Casa de Chá Flor do Abaeté estrela a Favas Contadas da semana; confira
É lá que se reúne um grupo de pioneiros - atualmente a maioria aposentada - que o brasiliense se acostumou a ver no jornal, em função das atividades que já exerceram
Liana Sabo
Publicação:17/04/2015 06:10Atualização: 16/04/2015 13:13
Sem nenhum ornamento, estilo simples e despojado - tipo botecão - com um grande espelho horizontal na única parede (o resto é aberto), piso de cerâmica, cadeiras e mesas de plástico branco. Assim é a decoração do estabelecimento, localizado no Bloco B da 105 Sul e que guarda algumas das melhores histórias da cidade. O local, de frente para um jardim da quadra residencial, nem placa tem, mas os frequentadores o conhecem como Casa de Chá Flor do Abaeté. Uma ironia que os diverte ao completarem a informação: "onde nunca se serviu uma xícara de chá".
Os pioneiros são egressos do Bar Samira, que funcionou nos anos 1960 e 1970 no Bloco A da mesma quadra sob a direção de um baiano chamado Cicilio. Quando ele voltou para Salvador, passou o bar para o Nunes. De lá, a turma subiu para o atual endereço que também pertenceu ao pai do advogado Nilson Curado. Roberto Macedo conta que quando a clientela reclamava que o tira-gosto era pouco, o seu Curado respondia: "A gente faz, mas vocês comem tudo!"
Desde 1992, a Flor do Abaeté é comandada por Galvani Torres Cuoco, que instalou na loja da frente a lanchonete Sub`s, especializada em açaí. Misturado a vários sabores como banana, maçã, xarope, mel e aveia, o preço do energético na tigela varia de R$ 8,25 a R$ 16,76.
Pimenta na matéria
Toda a família Cuoco (o pai de Galvani é tio do ator Francisco Cuoco) trabalha na casa. A esposa dona Dalva providenciou uma mesa cumprida de madeira, cativa dos pioneiros. Algumas atrações são fixas, como o bife de fígado, servido às quintas-feiras.
Sexta-feira é dia de rabada, cozida por muitas horas em molho de cebola, alho, tomate, cheiro-verde. "Por último, vem o agrião", diz Dalva, que entregou as caçarolas para o chef Valdemar Rodrigues, funcionário da casa desde os 13 anos. Com o caldo da carne, o chef prepara delicioso pirão servido com a rabada e arroz por R$ 45. No sábado, reina o churrasco. Nos últimos cinco anos, a casa não abre mais aos domingos.
Quase todos os pioneiros têm apelidos, nem sempre amáveis, como eles também muitas vezes não o são no trato ao redor da mesa. Reclamações fazem parte do script, como insinuar à colunista uma pimentinha na matéria: "bota aí que R$ 60 é a rolha de uísque oito anos mais cara da cidade."
Cheque sem banco
Certa vez, parou um Mercedes preto na quadra comercial e saltaram duas mulheres elegantemente vestidas. Olharam para o alto das lojas e foram descendo até o último bloco. De lá voltaram e decidiram perguntar onde fica a casa de chá que leram na coluna de Ari Cunha, Visto, lido e ouvido, publicada neste jornal. "É ali atrás", informou Galvani. "As senhoras foram ver e ao se depararem com o ambiente, voltaram no mesmo pé", lembra o proprietário.
O bar também serve para comemorações, como a do empresário Sebastião Valadares, que ganhou o grande prêmio da loteria federal. Por três dias, Tião como é conhecido, concedeu entrevistas para a mídia, sem sair do bar. Sobre ele há muitos relatos engraçados, como a vez em que perdeu no pôquer e preencheu um cheque universal (era aceito por todas as instituições bancárias) com o nome do Banco da Província da Paraíba, que nunca existiu. Surpreso, o credor comentou: "Já vi cheque sem fundo, mas sem banco, este é o primeiro".
Sebastião Valadares e Roberto Macedo se encontram para lembrar deliciosas histórias de amizade
Saiba mais...
É lá que se reúne um grupo de pioneiros - atualmente a maioria aposentada - que o brasiliense se acostumou a ver no jornal, em função das atividades que já exerceram. São jornalistas, publicitários, juristas, médicos, advogados, arquitetos e empresários. Político, quase nenhum, "é que o bar nunca elegeu ninguém", explica um deles. Os pioneiros são egressos do Bar Samira, que funcionou nos anos 1960 e 1970 no Bloco A da mesma quadra sob a direção de um baiano chamado Cicilio. Quando ele voltou para Salvador, passou o bar para o Nunes. De lá, a turma subiu para o atual endereço que também pertenceu ao pai do advogado Nilson Curado. Roberto Macedo conta que quando a clientela reclamava que o tira-gosto era pouco, o seu Curado respondia: "A gente faz, mas vocês comem tudo!"
Desde 1992, a Flor do Abaeté é comandada por Galvani Torres Cuoco, que instalou na loja da frente a lanchonete Sub`s, especializada em açaí. Misturado a vários sabores como banana, maçã, xarope, mel e aveia, o preço do energético na tigela varia de R$ 8,25 a R$ 16,76.
Hoje é dia de rabada na Casa de Chá Flor do Abaeté
Pimenta na matéria
Toda a família Cuoco (o pai de Galvani é tio do ator Francisco Cuoco) trabalha na casa. A esposa dona Dalva providenciou uma mesa cumprida de madeira, cativa dos pioneiros. Algumas atrações são fixas, como o bife de fígado, servido às quintas-feiras.
Sexta-feira é dia de rabada, cozida por muitas horas em molho de cebola, alho, tomate, cheiro-verde. "Por último, vem o agrião", diz Dalva, que entregou as caçarolas para o chef Valdemar Rodrigues, funcionário da casa desde os 13 anos. Com o caldo da carne, o chef prepara delicioso pirão servido com a rabada e arroz por R$ 45. No sábado, reina o churrasco. Nos últimos cinco anos, a casa não abre mais aos domingos.
Quase todos os pioneiros têm apelidos, nem sempre amáveis, como eles também muitas vezes não o são no trato ao redor da mesa. Reclamações fazem parte do script, como insinuar à colunista uma pimentinha na matéria: "bota aí que R$ 60 é a rolha de uísque oito anos mais cara da cidade."
Cheque sem banco
Certa vez, parou um Mercedes preto na quadra comercial e saltaram duas mulheres elegantemente vestidas. Olharam para o alto das lojas e foram descendo até o último bloco. De lá voltaram e decidiram perguntar onde fica a casa de chá que leram na coluna de Ari Cunha, Visto, lido e ouvido, publicada neste jornal. "É ali atrás", informou Galvani. "As senhoras foram ver e ao se depararem com o ambiente, voltaram no mesmo pé", lembra o proprietário.
O bar também serve para comemorações, como a do empresário Sebastião Valadares, que ganhou o grande prêmio da loteria federal. Por três dias, Tião como é conhecido, concedeu entrevistas para a mídia, sem sair do bar. Sobre ele há muitos relatos engraçados, como a vez em que perdeu no pôquer e preencheu um cheque universal (era aceito por todas as instituições bancárias) com o nome do Banco da Província da Paraíba, que nunca existiu. Surpreso, o credor comentou: "Já vi cheque sem fundo, mas sem banco, este é o primeiro".