Coluna Eu Vi revela atraso da tevê brasileira na representação de transgêneros
Enquanto em outros países ocidentais a questão é tratada com naturalidade, no Brasil o transgênero chegou à televisão em 2001 e ainda não ganhou espaço considerável
Diego Ponce de Leon
Publicação:11/10/2015 06:05Atualização: 09/10/2015 16:02
O mote desta semana não parte da televisão, mas chegarei lá. Li que o número de transexuais que poderão utilizar o nome social — e não o de batismo — no Enem, cresceu 172% este ano, em relação a 2014. Axé!
A televisão, no entanto, não tem se revelado o melhor reflexo da realidade, como julga ser. Transexuais ainda são raros na dramaturgia nacional, embora a gente esbarre com eles cotidianamente. A primeira transgênero surge apenas em 2001, em As filhas da mãe. A travesti aparece bem antes, em 1972, com o ator e diretor Ziembinski fazendo papel de uma senhora em O bofe.
De lá para cá, Ney Latorraca (foto), Luis Salem, Floriano Peixoto, entre outros, viveram travestis memoráveis.
Infelizmente, as representações acabam, na maioria das vezes, tendendo para o cômico, para a caricatura. Mal se fala, nas telas, sobre a força, a angústia, a militância. Transgêneros é como se não existissem.
Mas eles estão aí. Nas nossas famílias, nas nossas amizades. Se vocês acham que estão fazendo muito ao assistir a algo tão natural como um beijo gay, queridos, o buraco é mais embaixo.
Lá fora
Mais uma vez, a televisão brasileira se revela atrasada no debate sobre temas sociais. Mundo ocidental afora, as questões de gênero permeiam uma série de atrações, sem gerar grandes alardes. Pelo contrário, são programas aclamados pela contribuição à discussão. Melhor exemplo recente talvez seja a premiada série Transparent, na qual um pai de família se descobre transgênero. Sucesso de crítica e público.