
Tevê aberta: novelas apostam em disputas de poder nas tramas
Seja religiosa ou política, 'Os dez mandamentos' e 'Velho Chico' abordam a tensão entre figuras de poder
Não é só de disputas amorosas que sobrevivem as telenovelas. Frequentemente entraves pela liderança (política ou não) tomam conta das tramas. Atualmente pelo menos duas delas mostram líderes em busca da aceitação: a segunda temporada de Os dez mandamentos, na Record, e Velho Chico, na Globo.
No caso de Os dez mandamentos, a liderança em questão é religiosa. Nesta temporada, Moisés (Guilherme Winter) já conseguiu conquistar a credibilidade perante fiéis e seguidores. Ele conta com a ajuda de outros líderes, como Araão (Petrônio Gontijo) e Josué (Sidney Sampaio), que será o sucessor de Moisés entre os seguidores. O religioso, que, na primeira fase, abriu o Mar Vermelho está levando o povo à Terra Prometida.
“É um personagem que transmite paz. Moisés é emblemático, conhecido por muita gente — crianças e homens me abordam na rua. Fico lisonjeado com o reconhecimento do público e da crítica”, afirmou Guilherme Winter no lançamento da novela. O ator está em sua terceira trama bíblica e pôde ser visto em Milagres de Jesus e em José do Egito.
Para Guilherme, a liderança de Moisés não está ligada a disputas e, sim, a ações. “O que estou levando do Moisés é o olhar para o outro, a compreensão do próximo. Ele foi capaz de largar uma vida de luxo para se juntar aos miseráveis, ao povo dele que era muito sofrido”, afirmou ao jornal O dia.

A disputa política aparece com mais clareza em Velho Chico, novela que começa a penar para bater a audiência de Os dez mandamentos. São vários os exemplos do poder exercido pelos personagens do Brasil rural de Benedito Ruy Barbosa. Completamente em consonância com a obra do autor, o coronel Afrânio — defendido por um Antonio Fagundes pouco à vontade — talvez seja a maior delas. Sem ocupar nenhum cargo diretamente, ele dá as cartas e está por trás das decisões do prefeito de Grotas do São Francisco, Raimundo (Saulo Laranjeira), e do deputado Carlos Eduardo (Marcelo Serrado), genro do coronel.
Do outro lado está o vereador honesto Bento, vivido com afinco e competência por Irandhir Santos. Ele tem que convencer o povo de que os desmandos de Afrânio não são benefícios e, sim, atraso para a cidade. Irandhir contou no lançamento da novela que se inspirou em carrancas para viver um personagem destinado a espantar os maus políticos. Como não poderia deixar de ser numa cidade do interior, o padre também é uma liderança local. O papel fica com Romão (Umberto Magnani), o único capaz de ser ouvido pelos dois lados. Quem sabe ele não distribui carrancas por aqui?

Talvez o personagem de O bem amado seja o político mais lembrado da teledramaturgia brasileira. A criação de Dias Gomes caiu como uma luva para o ator Paulo Gracindo. O prefeito de Sucupira tem como maior objetivo inaugurar o novo cemitério da cidade, principal promessa da campanha, mas precisa que alguém morra para isso. A ironia é que a inauguração foi no enterro dele mesmo, assassinado por Zeca Diabo (Lima Duarte).
Paulo Ventura
Intérprete do irmão do vereador Santo em Velho Chico, Domingos Montagner era presidente na minissérie O brado retumbante, exibida em 2012. Ele chega ao poder por erros de manobras políticas. Fantoche nas mãos de raposas políticas, Paulo era presidente da Câmara dos Deputados e assume o Planalto quando o presidente e o vice-presidente morrem num acidente aéreo. Ele, então, se vê diante do dilema de ceder ou não a negociatas.
Luana
Mesmo sem exercer cargo político, a sem terra Luana, defendida por Patrícia Pillar em O rei do gado (1996), era uma liderança. Polêmica por ter se apaixonado pelo fazendeiro Bruno Mezenga (Antonio Fagundes), a personagem acabou levando a discussão sobre a reforma agrária para a casa dos brasileiros.