Estudo mostra baixa porcentagem de personagens interpretados por pretos e pardos
O índice aponta que apenas 10% dos papéis foram feitos por brancos e não-brancos nos últimos 20 anos
Vinicius Nader
Publicação:21/06/2015 06:17Atualização: 19/06/2015 12:46
As novelas brasileiras - especialmente as da Globo - são apontadas muitas vezes como espelho de costumes e retrato da sociedade brasileira. Mas, pelo menos no que diz respeito à participação de pretos e pardos na população, não é bem assim.
Realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a pesquisa A raça e o gênero nas novelas dos últimos 20 anos aponta que apenas 10% dos personagens das novelas exibidas pela emissora entre 1995 e 2014 foram interpretados por pretos ou pardos.
"Submetemos os atores de 101 novelas a um grupo que os classificou em brancos e não-brancos e depois fizemos a análise da narrativa para ver a importância dos papéis nas tramas", explica um dos coordenadores da pesquisa, Luiz Augusto Campos.
No estudo, Campos percebeu que o cenário não mudou nos 20 anos e que em oito tramas - incluindo sucessos como Império e História de amor - nenhum personagem principal era não-branco. "Nem mesmo em tramas com temática escravagista, o não-branco é maioria. Lado a lado, novela premiada com o Emmy, por exemplo, tinha 31% do elenco principal de não-brancos", comenta o pesquisador.
Lado a lado é uma exceção que teve um casal de protagonistas interpretados por pretos ou pardos - Lázaro Ramos e Camila Pitanga. Apenas 4% das protagonistas femininas não eram brancas. Entre os homens o número cai ainda mais: 1%.
É curioso notar que apenas Lázaro Ramos teve papel de protagonista. Entre as mulheres aparecem somente três nomes: Juliana Paes, Taís Araújo e Camila Pitanga, que, atualmente vive a mocinha de Babilônia, Regina. A mesma novela ainda traz atores como Thiago Martins, Marco Palmeira e Sheron Menezes em papéis de destaque. Símbolo das mocinhas nas novelas brasileiras, as Helenas de Manoel Carlos tiveram apenas uma representante negra, em Viver a vida. "Quantas Helenas existiram para que uma tivesse cabelos crespos?", questiona Campos.
"É preciso que as normatizações que estabelecem cotas raciais no audiovisual sejam transformadas em lei. Para que, com o tempo, mais personagens não-brancos sejam inseridos nas tramas. Os atores acabam ficando desestimulados com isso", defende Campos, que ainda aponta o padrão de beleza vigente no país - muitas vezes ditado pela própria Globo - como outro obstáculo a ser superado.
Números
5% dos protagonistas eram não-brancos
90% dos personagens eram brancos
1 novela superou os 30% de personagens pretos ou pardos
8 tramas não tinham pretos ou pardos em papéis de destaque

Exceção: depois de Lado a lado, Camila Pitanga protagoniza Babilônia
Realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), a pesquisa A raça e o gênero nas novelas dos últimos 20 anos aponta que apenas 10% dos personagens das novelas exibidas pela emissora entre 1995 e 2014 foram interpretados por pretos ou pardos.
"Submetemos os atores de 101 novelas a um grupo que os classificou em brancos e não-brancos e depois fizemos a análise da narrativa para ver a importância dos papéis nas tramas", explica um dos coordenadores da pesquisa, Luiz Augusto Campos.
No estudo, Campos percebeu que o cenário não mudou nos 20 anos e que em oito tramas - incluindo sucessos como Império e História de amor - nenhum personagem principal era não-branco. "Nem mesmo em tramas com temática escravagista, o não-branco é maioria. Lado a lado, novela premiada com o Emmy, por exemplo, tinha 31% do elenco principal de não-brancos", comenta o pesquisador.
Lado a lado é uma exceção que teve um casal de protagonistas interpretados por pretos ou pardos - Lázaro Ramos e Camila Pitanga. Apenas 4% das protagonistas femininas não eram brancas. Entre os homens o número cai ainda mais: 1%.

Taís Araújo foi uma Helena de Manoel Carlos, em Viver a vida
"É preciso que as normatizações que estabelecem cotas raciais no audiovisual sejam transformadas em lei. Para que, com o tempo, mais personagens não-brancos sejam inseridos nas tramas. Os atores acabam ficando desestimulados com isso", defende Campos, que ainda aponta o padrão de beleza vigente no país - muitas vezes ditado pela própria Globo - como outro obstáculo a ser superado.
Números
5% dos protagonistas eram não-brancos
90% dos personagens eram brancos
1 novela superou os 30% de personagens pretos ou pardos
8 tramas não tinham pretos ou pardos em papéis de destaque