Sommelier fala sobre obra do Mercado Municipal e influência de empresário
Inspirado em Jorge Ferreira, Tiago Pereira estudou enologia e hoje é considerado um dos maiores especialistas de vinho da cidade
Empresário, poeta, boêmio e agitador cultural. Predicados não faltam a Jorge Ferreira, figura ímpar na construção das cenas gastronômica e cultural de Brasília. Nos 12 bares que fundou, foram realizados mais de 10 mil shows. Ao morrer vítima de um aneurisma, em julho, Ferreira deixou órfã uma legião de amigos e admiradores — entre eles, Tiago Pereira da Silva. O jovem o conheceu em 2005, época em que Ferreira erguia uma de suas maiores realizações: o Mercado Municipal. Tiago, diante da gravidez da mulher e do desemprego que lhe tirava o sono, pediu ajuda a Jorge Ferreira. Tornaram-se amigos.
O primeiro passo
Desempregado em 2005, soube que Jorge Ferreira estava construindo o Mercado Municipal. “Ele avisou ao meu tio, Ivan Silva, a respeito de uma vaga na construção, mas minha função seria ajudante de serralheiro. Jorge me avisou: ‘Você vai trabalhar pesado’. No primeiro dia, não sabia de nada e rasguei metade do meu dedo com uma barra de ferro. Em dois meses, aprendi tudo que deveria saber. Trabalhei um ano na obra. Quando a construção acabou, Jorge me recolocou no Mercado como conferente de almoxarifado. Ele sempre me falava: ‘Esse é o primeiro passo. Vamos ver até onde você vai’. Comecei a conhecer mais a loja e a diversidade dos produtos.
Jorge Ferreira me apresentava a clientes importantes, como o ex-presidente Lula. Eu era auxiliar de serralharia, mesmo assim, conhecia personalidades, artistas e políticos. Eu recebia todas as mercadorias do mercado e passei a ter contato também com os vinhos.
Lia os rótulos de todas as garrafas. Pedi ao Valmir Pereira, que era o sommelier à época, que me ensinasse os segredos ‘desse tal de vinho’… Comecei a estudar. Paralelamente, fui promovido a balconista e posteriormente a supervisor de loja. O Jorge acompanhava todos os meus passos. ‘Saiu do estoque e já está como supervisor? Isso é bom’, ele dizia. E encerrava as frases afirmando: ‘Vamos ver até onde você vai’. Ele tinha um dom: via potencial nas pessoas que ninguém enxergava.